0

REVIEW: ERICA (PS4)

Data de lançamento: 19 de Agosto de 2019
Desenvolvedora: Flavourworks
Publisher: Sony Interactive Entertainment
Plataformas: PS4
Preço: U$9,99 (R$20,99 na PS Store Brasileira)


Durante o seu período de renascença da última década, a cena de desenvolvimento independente de jogos esteve associada ao resgate de gêneros clássicos. Muitos dos primeiros produtos de grande sucesso deste período utilizavam de visuais e/ou mecânicas dos 8 ou 16 bits, com adendos e reviravoltas modernas. Com o passar do tempo, outros gêneros também passaram a ser mais explorados, e nos últimos anos vimos a reintrodução de jogos com o Full-Motion Video, que utilizam de gravações live-action ao invés de modelos criados digitalmente. Alguns estúdios implementaram o FMV e maneiras diferentes, como os veteranos da Cyan que em Obduction misturaram as gravações reais com os ambientes renderizados em 3D na Unreal Engine 4, enquanto Sam Barlow, criador de Her Story e Telling Lies, fez algo parecido misturando gravações de atores reais com a sua interface dos seus thrillers investigativos. Não são exatamente as gravações que são interativas, mas elas são usadas para criar exposição em cima dos personagens e dos mistérios da história.

Mas geralmente, a estrutura é bem mais simples e parecida com os primeiros exemplos de FMV dos anos 90 como em Late Shift, The Bunker ou até em Barndersnatch da Netflix, onde a porção live-action é ditada por simples escolhas feitas pelo jogador ao decorrer das cenas. ERICA, do pequeno estúdio britânico Flavourworks segue essa linha, mas de uma forma que busca evoluir o meio.

O time construiu uma engine chamada de Touch Video, onde a interação do jogador vai além de só assistir a trama desenrolar. Ele pode também interagir com o live-action exibido na tela. Usando o touchpad do PS4 ou um aplicativo disponível para dispositivos Android e IOS (a opção que achei mais confiável) fazemos movimentos simples que são traduzidos para o jogo. 

Abrimos portas, gavetas, interagimos com teclas de um piano e até somos requisitados a desembaçar espelhos. Um dos momentos mais interessantes é quando podemos usar o touch para olharmos ao redor do cenários, e percebemos os comportamentos e interações de outros personagens enquanto exploramos a tela. Parece mundano e familiar como outros jogos do gênero de adventure, mas a grande diferença aqui é que estamos interagindo diretamente com as porções live-action, e não com assets criados digitalmente.

O jogo tem uma duração parecida com a de um filme, algo por volta de duas horas, e conta a história de Erica, começando com a exposição de um trauma passado durante sua infância. Quando somos trazidos para o presente, esse trauma volta a vida da protagonista dando início ao suspense que permeia a trama. É uma história com um começo levemente confuso, e que apesar de usar ganchos bastante conhecidos do gênero, se mantém interessante e com boas viradas, satisfatórias o bastante para nos manter engajado. Claramente não tem o valor de produção altíssimo, mas é um produto bem dirigido e com boas atuações.

A maioria do tempo estamos num hospital psiquiátrico chamado Delphi House, uma instituição que foi inclusive fundada pelo já falecido pai de Érica. Apesar de inicialmente achar que a instituição seria um local seguro e familiar para a protagonista se hospedar, o local rapidamente se torna misterioso e obscuro, um lugar perfeito para esse tipo de narrativa.

As diferentes escolhas dão a possibilidade de explorar distintas facetas do local e também interagir com diferentes personagens gerando sequências únicas em cada sessão jogada. Não existe aqui uma profundidade absurda no rateamento da história baseado nas decisões (o que pode gerar algumas sequências meio desconexas dependendo das escolhas) mas nossas ações podem mudar o destino de personagens e a conclusão da história, então nunca teremos todas as respostas em só um playthrough, o que é encorajante para o fator replay. É uma pena que o jogo não tenha uma ferramenta de seleção de capítulos para que possamos explorar a narrativa de pontos específicos ao invés de termos que começar sempre do zero.

Tendo maiores possibilidades de interação do que outros jogos de FMV, a Flavourworks o utiliza para manter o jogador o mais focado possível com a experiência. A cada minuto existe algo que depende do imput do jogador na tela, e dessa forma o jogo se torna bem mais ativo do que alguns jogos similares, que são conhecidos pela sua passividade. É quase que uma mistura de adventures point & click com FMV, resultando numa combinação bem interessante.

VEREDITO

Com um uso bastante sólido de tropos conhecidos do gênero de suspense, ERICA não tem necessariamente como destaque sua história ou conjunto de personagens. Mas é um conto bem produzido e interessante o bastante para evidenciar o que é de fato o aspecto mais especial do jogo, que é a maneira como a Flavourworks encontrou para aumentar o engajamento do jogador, criando uma camada de mecânicas e interações extremamente naturais em cima dos elementos de live-action. É um produto que constrói uma nova base mais interativa para produções em FMV, abrindo um novo potencial para o gênero.

NOTA: 7.5/10