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REVIEW: Untitled Goose Game

Data de lançamento: 20 de Setembro de 2019
Desenvolvedora: House House
Publisher: Panic Inc.
Plataformas: PC (EPIC GAMES STORE, Nintendo Switch)
Preço: U$19,99


Uma das razões de eu gostar tanto das encarnações da franquia Hitman nessa geração, é a forma como a IO Interactive construiu mapas e sistemas que funcionam como um playground para o poder de percepção e criatividade do jogador. Você vai olhar para seus objetivos, analisar as partes envolvidas na situação, entender as regras impostas, supor comportamentos de personagens e utilidades de objetos e testar suas hipóteses via gameplay. Os sistemas podem interagir da forma como você imaginava, ou podem revelar ainda outras características que você não tinha percebido, e a diversão vem desse processo de experimentação e aprendizado. É um jogo de stealth sim, mas é na mesma proporção um jogo de puzzle.

Untitled Goose Game tem esse mesmo espírito, com bem menos profundidade, um pouco mais de charme e utilizando de um protagonista improvável.

Nós de fato controlamos um ganso durante o decorrer do jogo e o nosso objetivo é atravessar diferentes áreas de uma simpática vila Britânica em busca de um objeto específico, causando o máximo de confusão e pavor aos habitantes desta vila durante nosso caminho. Temos um botão dedicado tanto para carregar coisas quanto para interagir com elementos do cenário, um para corrermos, outro para grasnar e os bumpers são usados para mudarmos nossa postura, podendo agachar (que nos dá a possibilidade de se esconder embaixo ou atrás de certas estruturas) ou levantar o pescoço abrindo as asas. Não é o personagem mais preciso de se controlar, mas no geral são controles bem simples e rapidamente esse layout fica bem natural. 

Em cada uma das quatro áreas, você tem uma lista de tarefas a realizar. Elas podem ser mais objetivas, como as que pedem para você coletar alguns objetos e colocá-los todos em um local distinto, ou podem ser meio enigmáticas ao não dizer exatamente o que fazer para realizá-las. Nem todas essas tarefas também são obrigatórias, enquanto as principais terão impactos de transformação na área em que você está, possibilitando o progresso do jogo, algumas outras serão opcionais tendo como recompensa mais o desafio de completa-las mesmo. O jogo não é exatamente dividido em fases, pois todas as áreas principais estão conectadas e, uma vez que você as termina, pode explorar o mapa inteiro de acordo com à sua vontade.

Os NPCs ocupam essas áreas fazendo coisas bastante mundanas. Eles estão apenas fazendo seu trabalho diário, cuidando do jardim ou relaxando tomando uma xícara de chá no meio da tarde. Praticamente todas as suas tarefas envolvem interromper a aparente paz que esses habitantes experienciam na vila. Eu sei que isso da a entender que você é o cara mau da história, e você meio que é, mas você não está fazendo nada muito cruel com eles (com uma ou outra exceção). No geral, seu objetivo é causar um ”tumulto divertido” por onde você passar. O visual low-poly do jogo é adorável e pinta ainda mais uma imagem desta região ser um lugar pacato que está sendo perturbado pela sua presença. Outro aspecto que ajuda a transmitir essa sensação é a trilha sonora dinâmica. O jogo é livre de música até você criar alguma situação que extraia uma reação dos personagens, e isso aumenta se você continuar os pressionando com um comportamento “agressivo”. É um uso brilhante da música para transmitir tom dentro do jogo.

Todos os NPCs têm uma rota de comportamento bastante simples e curta, e depois de alguns minutos os observando, você pode usar esse conhecimento como sua ferramenta para atingir seus objetivos. Às vezes, acontece dos NPC’s se comportarem de forma inesperada, pois você pode ver claramente que eles dão uma bugada nas suas rotas por conta de algumas de suas ações mais ousadas.

Assim, como nos jogos Hitman que mencionei acima, a maneira de superar essas tarefas é entender os tipos de regras existentes e, usando sua curiosidade e poder de percepção, teorizar e executar a solução que você acredita ser a certa para esses quebra-cabeças. Você vai explorar o cenário, tentar trocar objetos de lugar, usar seu ”HONK!” para chamar a atenção ou assustar os moradores e se esconder quando estiver fazendo algo que desagrade os NPC’s. Embora a natureza das tarefas em si realmente o incentive a testar suas hipóteses e aguçar sua criatividade, as soluções geralmente são diretas, com pouca abertura para diferentes linhas de aproximação. A ideia não é tanto decidir qual a sua forma de resolver o problema, mas sim testar várias formas e encontrar a correta. Por mais que eu ache que a rasa profundidade dos sistemas possa ser vista como deficiência, é compreensível e até impressionante ver o que os Australianos da House House conseguiram alcançar com uma equipe básica de apenas quatro pessoas.

Concluir uma das tarefas não só é ótimo devido à sensação natural de satisfação por realizar algo, mas as situações geralmente são realmente engraçadas. Apenas o fato de os NPCs terem um olhar misto de surpresa e raiva porque um ganso está os infernizando é inerentemente engraçado. Só é um pouco lamentável que o jogo seja curto. A realização de todos os objetivos primários em cada uma das principais áreas levou cerca de 3 horas no total. Mas é bom que, depois que de terminar o jogo, não apenas você pode voltar para qualquer área para executar tarefas que talvez ainda não tenha concluído, mas também novos desafios lhe são propostas, e muitas delas envolvem você misturando e interagindo aspectos de áreas diferentes para alcançar seu objetivo. Essas tarefas mais elaborados são algumas das mais desafiadoras e vão te dar ai mais um conteúdo se assim como eu, você quiser experienciar o máximo que o jogo tem a oferecer.

VEREDITO

Não é atoa que Untitled Goose Game se tornou uma febre antes mesmo de seu lançamento. Esse pequeno jogo é adorável, cômico, acessível e propõe ao jogador que use dos seus instintos baderneiros para encontrar soluções divertidas para seus puzzles. Espero que todo o sucesso signifique que essa não será a única aventura do ganso sem nome.

NOTA: 8.3/10


Este review foi baseado em uma cópia de Nintendo Switch fornecida pela Panic Inc.