Houve uma época em que vendia-se um jogo pela capa. Não estou falando da venda propriamente dita, mas sim da venda da ideia daquele jogo, do seu conceito, da vontade de experimentar aquilo… De fazer o consumidor comprá-lo antes mesmo de experimentar ou ir à loja.
Era um período diferente, onde dependíamos, ainda mais aqui no Brasil, de revistas especializadas para conhecer o que estava na moda lá fora. Ou então encontrar, sem querer, aquela capinha perdida na locadora, que chamava a nossa atenção e acabávamos descobrindo um novo jogo favorito que quase ninguém falava sobre. O tal do acaso.
Era um mercado mais simples, ainda virgem, em desenvolvimento, onde nem sempre quem fazia a arte da capa de um jogo tinha uma noção muito boa sobre o que se tratava aquele projeto. Por isso, muitas delas não tinham absolutamente nada – mas nada MESMO – a ver com o jogo em si. Isso acontecia com certa frequência na época do Atari e dos 8 bits.
De lá para cá, as coisas mudaram completamente e hoje temos muitas informações sobre os jogos antes mesmo deles estarem disponíveis para a gente. Trailers, gameplays, streams de lançamento… A capa é um dos últimos recursos de marketing que conhecemos de um jogo. Não vou entrar no mérito de ser melhor ou pior, mas a sensação de você dar um tiro no escuro em um determinado game está praticamente extinta.
Nesse artigo, vamos relembrar várias capas clássicas das mais diferentes épocas da história dos videogames. Não apenas as melhores, mas uma mistura entre as mais fantásticas já feitas, algumas icônicas, outras lembradas não necessariamente de maneira positiva, mas que também marcaram a nossa memória por serem memoráveis à sua maneira, por quaisquer outros motivos.
Um fato curioso: todos os quatro integrantes do Reloading contribuíram com sugestões de capas para a matéria! Foram mais de 30 indicadas, então dividimos essas escolhas em dois volumes. Dependendo do número de indicações feitas por vocês, nossos queridos ouvintes / leitores, quem sabe não fazemos uma edição extraordinária ou até outras mais?
Deixem suas sugestões nos comentários e vamos à lista!
Dark Souls
É claro que estamos falando da arte onde um personagem está sentado, de costas, em uma bonfire… Era para ser um momento seguro, onde tenta relaxar, mas sem se desgrudar da sua espada e encarando um caminho em completo breu à sua frente. Representa muito bem a sensação do jogador.
Doom
Nos anos 90, vivíamos uma onda muito grande de heróis e heroínas bad-ass e Doom é um filho quase que integral da sua geração. Um homem cercado de demônios, encurralado, quase que num pedestal onde o maior prêmio é ainda estar vivo – pelo menos por enquanto, já que eles estão perto a ponto de segurarem o seu braço e outro quase puxando sua perna. Ao fundo, um tiozinho atrasado tentando ajudar. Bom retrato dos corredores do jogo, onde demônios vinham de todos os lados possíveis e paz era algo raro.
Final Fantasy
Caso onde a simplicidade abraça a imaginação. Final Fantasy, principalmente os primeiros, eram aventuras mágicas, mas simples e diretas. Essa capa representa isso muito bem em espírito, onde espadas, machados e magia se misturam em busca de um castelo a ser explorado. Mais RPG do que isso não há, é quase como os jogos de esporte de antigamente que só se chamavam “Soccer” ou “Basketball”.
Flashback
Essa capa sempre foi icônica por ter uma arte expressiva, colorida em tons de ficção científica dos anos 80 e composta de uma visão tecnológica muito mais imaginativa do que pé no chão; algo bem comum à época. É um convite irrecusável para quem gosta do gênero e entrega muito bem aquilo que o jogo propõe.
GTA: Vice City
O recorte de tudo o que há no jogo: máfia, carros, motos, lanchas, explosões, mulheres… É um resumo tão bem feito e com uma arte que se tornou padrão da série: desenhadinha com traços e com cores características; o letreiro em neon é referência direta aos anos 80 anfitriões da história. O engraçado é que, aqui no Brasil, essa capa acabou chegando às nossas mãos mais por uma impressão à jato de tinta caseira do que a original mostrada acima, mas tá valendo. Lembramos com o mesmo carinho.
ICO
A mágica do minimalismo japonês – que acabou sendo utilizada na Europa para o bem deles, ao contrário da versão que chegou por aqui, bem menos marcante e mais genérica. As linhas, as cores, a vastidão, mas ao mesmo tempo vazio… Com os dois protagonistas livres pelo cenário, mas também presos a ele. É tudo o que o jogo oferece e mais um pouco. Uma das maiores capas de todos os tempos.
Kingdom Hearts
A ideia era maluca, mas quando essa arte foi revelada, lembro de ter ficado bastante ouriçado. Quem diria que a Disney poderia receber traços e ser retratada em tons de Final Fantasy? E o melhor de tudo, que tinha ficado tão bom? Que coisa de louco! A lua em formato de coração atrás dos personagens é um detalhe à parte. E bom, todos olhando pro céu… Ou quase todos. Logo quem não está?
Mega Man
O maior expoente de quando falamos da diferença que existia entre arte / jogo final. Quem desenhou essa capa com toda a certeza do não fazia a menor ideia do que estava tentando representar – e não, não culpo o artista, provavelmente ele recebeu um briefing bem limitado e, naquela época, com tudo muito cru e ainda dando os primeiros passos, acabamos recebendo isso aí… Que é até hoje uma das mais lembradas em todas as listas que citam capas de videogames. Tão ruim que fica até boa. Capcom tinha que brincar mais com esse cara aí em seus jogos.
Mônica no Castelo do Dragão
A gente nem sabia que era um jogo baseado em outro… (não na época). O importante era ter a Mônica descendo a coelhada nos inimigos. Era um jogo com a Mônica, pô! Precisava de mais? Os detalhes são maravilhosos: seu olhar confiante, a porta sendo chutada, a informação de 2 mega e, claro, a assinatura do Maurício de Sousa! Na capa de um jogo de videogame! Tem noção do quanto isso foi mind blowing naqueles tempos? Tô nem aí se os gringos achariam uma porcaria essa escolha. Ela representa parte da nossa infância.
Mortal Kombat
Sempre achei esse escudão do MK irado. Tem muita presença, tá doido. Engraçado como o jogo rivalizava com Street Fighter e nessa capa mesma conseguia imprimir uma postura mais madura, violenta… O que acabava condizente com o jogo, bem diferente do seu rival – não necessariamente melhor. Acabei pegando essa versão do PC porque era a que tinha melhor qualidade, mas o vermelho ao fundo a deixa ainda mais sensacional.
Resident Evil 4
Ok, essa capa é assustadora pra cacete. Lembra bastante O Massacre da Serra Elétrica e tem muito mais identidade do que as outras que acabaram sendo veiculadas depois para o game – ok, elas são muito mais comerciais, mas um maníaco com uma serra elétrica no meio da floresta é freak até dizer chega. Isso que nem citei ainda o vermelhão sangue que contrasta com o preto da silhueta. Boa escolha de composição de quadro.
Secret of Mana (Seiken Densetsu 2)
Sou completamente apaixonado por essa imagem. A versão japonesa, que mantém a arte em pé e dá uma dimensão fantástica para a árvore que os protagonistas estão observando, minúsculos… Na ocidental, por ter por característica uma arte horizontal, acabou precisando fazer o sacrilégio de cortar boa parte dessa magnitude. Ela inspira aventura. Uma curiosidade pessoal: certa vez morei em uma casa onde o terreno ao lado tinha uma árvore grande e imponente como essa. Ficava bem em frente à minha janela e lembro com bastante carinho de sempre pensar nesse jogo quando olhava para ela.
Street Fighter 2
Ryu bem novinho e sem barba apagadão no chão e Chun-li prestes a tomar uma bolada de um Blanka sorridente e com cara de maluco. Isso tudo em um beco de rua, que era praticamente sinônimo de local mal frequentado dos anos 80. Tudo bem que Street Fighter acabou utilizando vários estereótipos de cada país que representou para si, mas essa capa vai por um outro lado e até hoje é bacana demais por claramente não ter muito bem a ideia da proporção que cada personagem ganharia dentro da história da cultura pop com o passar dos anos.
Super Mario Bros 3
Simples e bela. Tomada pelo contraste do amarelo de fundo, do logo azul e um Mario de cores fortes, sorridente, é um convite que aceitamos de maneira quase intuitiva para a aventura. Braços abertos, power up… Como não amar? Particularmente, acho bem mais bonita do que os dois jogos anteriores do encanador e uma das mais carismáticas até hoje.
The Legend of Zelda: Breath of the Wild
Link em cima de uma montanha, olhando ao horizonte o castelo tomado por Ganon… com a Death Mountain ao fundo. É a liberdade, o senso de escala desse mundo. Você pode ir para onde quiser, mas ao mesmo tempo está solitário em um mundo depressivo e hostil. Até gosto mais das cores vivas da versão europeia, mas a posição do herói aqui acabou compondo uma imagem muito mais imponente.