No último dia 19 de junho, Counter Strike completou 21 anos de existência.
Um dos jogos mais populares de sua época, CS foi responsável por inserir as jogatinas em lan houses na rotina da molecada e criar uma série de memórias coletivas que esses já não tão jovens compartilham até hoje, mesmo não se conhecendo e morando em locais completamente diferentes. As histórias são as mesmas.
Este artigo não pretende ser uma revisitação histórica precisa daquele que nasceu como um mod do também popular Half Life, mas sim dividir histórias pessoais com o game, que possivelmente serão compartilhadas por alguns dos nossos ouvintes, assim como evocar que cada um também compartilhe a sua com o jogo. Vamos tentar fazer deste artigo um grande mural de lembranças.
A primeira vez que vi CS foi através de amigos e do meu irmão, que chamaram para jogar em um shopping não tão chique, mas também não tão ferrado aqui em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Era a famosa Blackout, no terceiro andar do Center Shopping Rio, ao lado do cinema. Me surpreendi com a quantidade de pessoas que ali estavam, no começo dos anos 2000 – acho que o ano exato foi 2001; mesmo sendo usuário de PC desde meados dos anos 90, nunca tinha visto CS até aquele momento.
Lembro que um dia chegamos a esperar por oito horas até a nossa vez de jogar. Sim, é muito, sei disso. Beira a loucura. Mas a “fila” fazia parte da diversão: não era uma tradicional de banco, e sim ficávamos na frente da lan house espalhados, conversando, falando sobre outros assuntos como o último CD do Red Hot que tinha acabado de sair ou então do futebol e do pagode do final de semana. Funcionava assim: você chegava, colocava seu nome na fila, o tempo que iria jogar e ficava em frente à loja esperando a sua vez. Se não me engano, o nome do atendente era Igor. Gente boa demais. O pessoal do shopping devia adorar aquela multidão ali…
Os mapas de cs_rio e fy_pool_day já eram vastamente utilizados pelos mais casuais, enquanto os aspirantes a Pro Players (que nunca se tornaram um) já treinavam mais seriamente para campeonatos locais. Lembro que uma vez fomos treinar contra o time ‘oficial’ da casa e eles venceram por pouco. Considerando que a gente era jogador casual de mata mata, já dava para ver que aquele time não tinha muito futuro. Pelo menos era divertido e a gente jogava de graça nesses treinos (que aconteciam em mapas de campeonato, não nos dois citados).
Uma outra lan house que fez muito sucesso com a minha turma foi a Gateway, na Taquara. Lá era um lugar bem mais serious business. Nível bem maior, com uma galera um pouco mais velha também. O dono era o Chuck, baixinho engraçado pra caramba, de quem acabamos ficando muitos amigos e seguimos a jogatina com ele pós Gateway, com World of Warcraft e Dota, por muitos anos até ele se afastar dos games.
Na Gateway algumas histórias foram escritas, de usar o banheiro de emergência a conhecer lendas do Counter Strike como o Pava, então na áurea miBR. Quem esquece aquele time com pred, eduzin, KIKO e Corassa? Pava era amigo de Chuck, então foi bacana apanhar de um profissional no CS. Tempos depois, acabamos jogando na mesma guilda do Wow (Só Capim Canela, batendo no Illidan em Black Temple) antes de revê-lo pessoalmente em 2017, quando seu novo time jogou no Geek & Game Rio Festival, do qual fui curador.
Mas foi mesmo na Lan House Matrix onde as melhores lembranças foram escritas. Perto de casa, ficava perto de um ponto de ônibus no Pechincha, Jacarepaguá. Eram uns 30 computadores e o dono Rogério ficava maluco quando tinha gritaria. Ele dizia que incomodávamos os outros clientes, que sinceramente nunca pareceram se importar muito com as nossas jogatinas. Até porque gritaria era só nos momentos onde algo realmente incrível acontecia, umas duas ou três vezes por dia. Podia ser algo incrivelmente bom ou incrivelmente ruim, então o grito variava entre empolgação e zoação.
Volta e meia um dos caras que tava no chat de tela vermelha do UOL dava uma olhada para a gente, mas acho que era mais para ver se estávamos de olho no que ele estava fazendo (era um chat de sacanagem rs) do que incomodado em si. Ele tinha outras preocupações naquele momento.
Consegui achar essa foto real da Matrix, meio antiga, mas ainda assim mais recente do que quando íamos lá. Ela mostra do meio do salão em direção à porta, e não da porta até o fundo, o que faz ela parecer menor do que realmente era.
Foi lá onde fiz meu primeiro viradão (ou corujão). Mas não com o Rogério, e sim com o seu filho Daniel. Ele era meio doidão e fazia esse tipo de ação, tanto para o pai ganhar mais dinheiro quanto para se divertir também. Ficávamos lá, enfurnados em um lugar fechado (a lan house era de rua, como os antigos cinemas), de porta trancada, jogando até o Sol raiar do lado de fora e irmos para casa dormir. Era um valor fixo e muita gente pagava, viu? De vez em quando pedíamos uma pizza com refrigerante. Um programa extremamente saudável.
Edit: um amigo lembrou os nicks que usávamos haha. Eu jogava como “P A L (\/) I T O”, meu irmão como “vzz” (do filme de guerra Círculo de Fogo) e nosso amigo Tiago com o nick “Vampiro”.
Na Matrix também rolavam outros jogos: certa vez, houve um round emblemático de Battlefield 2, onde meu amigo Gustavo estava com a bandeira e eu o levei de jipe até o objetivo da fase, perseguidos pelo ótimo piloto de avião Grieco, que não conseguiu nos matar. Ele até destruiu um dos carros, mas por sorte havia outro novinho do lado. Acho que foi o dia em que mais gritamos, para desespero do Seu Rogério. Em 2005, as telas já eram de um LCD primitivo, com os gabinetes dos computadores grudados acima, e foi quando Dota entrou na minha vida para nunca mais sair. Alguns jogavam Need for Speed Underground e GTA San Andreas à exaustão. Mas aí já estamos desvirtuando da matéria.
Outras Lan Houses também fizeram parte em menor escala. Lembro de certa vez ir jogar na Arena do Shopping Downtown, na Barra da Tijuca, com meu amigo Wagner Santisteban. Ele é ator, fez alguns personagens icônicos na TV como o Basílio do seriado Sandy e Junior e o Download de Malhação, então é óbvio que quando a gente entrou no jogo, algumas pessoas ficavam zoando com isso principalmente nos nicks. Essas provocações existiam com frequência, quase sempre com desconhecidos, o que era o nosso caso ali. Teve uma vez que joguei CS até mesmo em uma Lan House pequena de 6 computadores em um shopping em Fortaleza, no meio de uma viagem de férias, só para não perder o costume.
Algo que era comum a todas essas Lan Houses eram os itens vendidos no balcão. De base, todas tinham um mini freezer ou uma geladeira onde vendiam refrigerantes, sucos e demais bebidas. É nesse tipo de lugar que você conhece lendas como Jesus Guaraná. Salgados de procedência e validade duvidosas também eram parte do nosso cardápio e alguns até mesmo vendiam camisas e demais vestimentas do gênero. Nada como os uniformes famosos de hoje, nem mouse pad, teclados coloridos e tals. Era um negócio mais primitivo, mas não menos bacana.
Hoje em dia, jogo Counter Strike muito casualmente em sua versão Global Offensive com os mesmos amigos da época das lan houses (alguns de infância, outros que fiz naquela época) e assisto a bastantes transmissões pela internet ou então em canais de televisão. É uma loucura pensar o quanto tempo esse jogo está presente na minha vida e o quanto ele foi testemunha do tanto que aconteceu na minha vida. Não é o meu favorito do cenário competitivo, mas sem dúvidas é um dos que tenho mais carinho até hoje.
E vocês? Quais suas memórias com Counter Strike? Conta aí pra gente.