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Sobre a compra bilionária da Bungie e o futuro da PlayStation além do console.


Na manhã da segunda-feira passada, as ações do Sony Group foram interrompidas por alguns minutos e, logo em seguida, eles anunciaram que estavam comprando a Bungie por U$3.6 bilhões e, quando a transação for concluída, eles se tornarão uma subsidiária da Sony Interactive Entertainment. Fundada em 1991, a Bungie foi comprada pela Microsoft em 2000, logo no início de sua divisão Xbox e eles foram responsáveis ​​pela criação do Halo, uma IP que foi central para colocar a plataforma Xbox no mapa e, que até hoje, ainda é franquia mais icônica da Microsoft em sua história de console (ignorando Minecraft, é claro, que é seu maior asset de jogo). Eles se tornaram independentes novamente e, em 2010, assinaram um acordo com a Activision para publicar Destiny, seu FPS MMO. Eles terminaram esse acordo mais cedo e assumiram o controle total da propriedade de Destiny em 2019.

Mas apesar de comprar os fabricantes de jogos tão influentes e populares como Halo e Destiny, a SIE não colocará a Bungie sob um regimento de exclusividade na plataforma PlayStation. Eles estarão livres para continuar publicando seus jogos por conta própria nas plataformas que quiserem. Então, por que gastar de longe o maior valor que já gastaram em uma aquisição de empresa, para não fazê-los trabalhar em títulos exclusivos para consoles PlayStation? Existem algumas razões, e fiquei impressionado que a liderança da SIE tenha sido tão aberta sobre seu futuro ao falar sobre a aquisição.

Até a Sony entende que há um futuro em que ser uma empresa centrada apenas em hardware pode não ser mais tão sustentável. Atenção para a parte do ”apenas”, pois a SIE está ganhando dinheiro como nunca fez antes com sua plataforma PlayStation, mas a indústria de jogos como um todo está vivendo essa realidade, e o negócio de consoles é apenas um nicho dentro de algo maior. Os jogos mobile e de serviço estão dando a maior parte do retorno no mercado.

Além disso, há o custo crescente de fazer os jogos triple-A pelos quais o PlayStation Studios é conhecido, e eles já estão se resguardando perante isso ao portar vários de seus principais títulos mais antigos para o PC. Eles até tiveram sua primeira experiência multiplataforma com o MLB The Show em 2021. Claro, esse movimento foi inicialmente forçado pela organização titular da licença do campeonato de Beisebol, mas a liderança da Sony já declarou sobre o quão satisfeitos eles estavam com os resultados desse jogo. The Show 21 foi o nono jogo mais vendido nos EUA no ano passado. Na semana passada, a Sony anunciou que o MLB The Show 22 está chegando novamente ao Xbox Game Pass já no lançamento, ao mesmo tempo em que expande as plataformas e será lançado no Nintendo Switch pela primeira vez.

A Sony não está parando de fazer jogos exclusivos single-player para sua plataforma, teremos novos anúncios deles este ano e sequências massivas de suas franquias como Horizon, Gran Turismo e God of War estão chegando em 2022. Ela nunca teve tantos sucessos nessa área e pretende continuar tendo. Eles estão apenas abertos para oferecer suporte a diferentes tipos de jogos que podem estar disponíveis em uma série de plataformas diferentes para maximizar seus retornos de dinheiro. Basicamente, eles estão expandindo suas operações no mercado de jogos para continuar crescendo como empresa (o objetivo de toda organização), e a Bungie pode ser a chave para isso.

Historicamente, a PlayStation Studios tem dificuldade para obter sucessos com títulos centrados no multiplayer. Às vezes, um modo multiplayer em um jogo single-player pode prosperar por um tempo, mas especialmente desde que entramos na era dos jogos de serviço, a Sony simplesmente não teve um sucesso próprio. Muitos jogos de terceiros prosperaram massivamente em sua plataforma. Warzone, Fornite, Rocket League, FIFA, NBA2K todos têm o PlayStation como sua plataforma mais lucrativa, mas a Sony só recebe sua comissão nesses casos

Com esta compra, Destiny será seu primeiro jogo massivo de serviço. O jogo atinge consistentemente mais de um milhão de jogadores diários, e recentemente a Bungie anunciou que sua próxima expansão, The Witch Queen, ultrapassou 1 milhão de pré-vendas e está a caminho de se tornar a expansão mais pré-encomendada de todos os tempos da série. A Sony espera que a Bungie obtenha um tipo semelhante de sucesso com sua nova IP que vem sendo trabalhado há alguns anos no estúdio, e o mais importante, use sua experiência e conhecimento técnico na criação de jogos de serviço para ajudar outros títulos futuros da Sony a se tornarem sucessos também.

Hoje, a Bungie tem mais de 900 funcionários, e será de longe a maior empresa sob o manto PlayStation, mais do que dobrando os números máximos que Naughty Dog, Guerrilla e Santa Monica alcançaram no pico de desenvolvimento de grandes jogos. Uma empresa tão grande focada na produção contínua de conteúdo para um jogo de serviço com monetização persistente e que implementou com sucesso um modelo de free-to-play em seu jogo terá muito a ensinar para suas empresas irmãs.

Durante seu recente relatório financeiro, a Sony disse que está planejando pelo menos 10 jogos desse tipo que esperam lançar até o final do ano fiscal de 2026. Tenho certeza de que um deles é o título anunciado com a Firewalk Studios, uma equipe liderada por Ryan Ellis, antigo diretor criativo de Destiny. O jogo pode ser anunciado este ano e não me surpreenderia se fosse lançado pelo menos no PC ao lado do PS5 já no lançamento.

Depois, há também a parte em que a SIE está agressivamente licenciando seus IPs para outras mídias, especialmente filmes e TV com a divisão da PlayStation Productions, e Destiny pode facilmente ser um excelente candidato.

Fazer a Bungie fazer jogos apenas para PlayStation desde o início certamente poderia ter aumentado o valor percebido de sua plataforma. Mas não é como se eles estivessem precisando desesperadamente disso agora, a marca nunca foi tão forte e eles têm sido muito bons em nutrir o PS5 com conteúdo exclusivo, muito melhor que o PS4 neste momento de sua vida. Seu maior problema agora não é a produção de software ou o valor da marca, mas a fabricação de hardware. Novamente, esse movimento é para alcançar os jogadores além do console, como o próprio Jim Ryan colocou. E claro, nada impede que alguma coisa exclusiva possa vir em alguma momento da vida das duas empresas, mas hoje, essa não é a intenção.

Ah, e por que eles pagaram tanto? Bem, primeiro há o fato de que U$1,2 bilhão é destinado a bônus relacionados à retenção de talentos, uma das partes mais importantes do negócio. Além disso, a avaliação das empresas de jogos estão em alta devido ao quanto a indústria de jogos cresceu durante a pandemia. A indústria já estava em alta, mas a pandemia acelerou o crescimento em meia década. Também por causa disso, grandes plataformas como o PlayStation geraram lucros sem precedentes, dinheiro excedente que estava em suas reservas. É melhor investir esse dinheiro do que deixar bilhões perderem seu valor para a inflação.