Este texto foi escrito por João Varella, colaborador de games na Folha, fundador da editora Lote 42 e autor do livro ”Videogame, a evolução da arte”, disponivel no site da Banca Tatuí
Recebi uma chave do jogo de PlayStation 4 Nioh 2. Porém, não deu para fazer resenha do jogo. Tudo bem, Sony? Tudo bem, joga aí.
Ufa, que alívio não ter de resenhar. Nioh é uma franquia soulslike, com alto nível de dificuldade e tensão. Morreu, seu XP fica preso ao túmulo; morreu no caminho do túmulo, perdeu o XP para sempre. Eu não consigo jogar esse gênero por muitas horas seguidas. Faço sessões de uma hora, um pouco mais um pouco menos, o suficiente para me deparar com um desafio, superar ou ser superado.
Para superar Bloodborne, apelava para o disco Banda Eva ao Vivo (1997). Jogava o pesadelo da FromSoftware com Ivete Sangalo de fundo para quebrar o nervosismo. Mesmo com axé, em sessões curtas.
Quando tenho de fazer resenha, tento chegar ao final do jogo, o que iria completamente contra esse estilo ponderado de jogar esse gênero. Levei 72 horas para superar o Nioh original, no ano passado. Se o novo jogo tiver a mesma extensão (não sei), precisaria fazer jogatinas de dez horas por dia para entregar na data da queda do embargo, este 10 de março. Não tenho tempo, não tenho condições profissionais, não tenho condições psicológicas para fazer isso.
Algum resenhista tem? Será que consumir nessas condições não traz impressões errôneas do jogo, seja ele Nioh 2 ou qualquer outro jogo?
Mesmo sem fazer crítica, pude nos últimos dias jogar nas condições de quem resenha, com escassas informações na internet sobre o jogo — há dados sobre a versão alpha, mas ainda sem a riqueza de estudos do Nioh original. Certamente nos próximos dias a comunidade vai encher os fóruns de builds, dicas e guias. Só joga sozinho quem quer hoje em dia.
Cheguei em uma semana até o chefe da terceira missão. Deu para notar que Nioh 2 abraçou a fantasia. As referências históricas permanecem, claro. Digamos que mudou um pouco o balanceamento, tendendo mais ao folclore do Japão e do próprio do game. A ambientação não é tão decadente e sombria como no primeiro.
Isso se reflete no gameplay. Agora o personagem do jogador (cujo visual é customizável; eu fiz uma samurai de cabelos brancos) é um meio-demônio. O botão R2 é uma espécie de tecla Shift para ativar as habilidades diabólicas. R2 + círculo, por exemplo, é um parry especial (que eu não consegui pegar o tempo direito até agora).
Com essa “camada do kapiroto”, Nioh 2 elevou a complexidade da jogabilidade na comparação com Nioh, que já era um jogo com alta quantidade de dados e números. Cada arma, cada peça de armadura, vem com uma ficha cheia de dados e bônus próprios. Ao longo da jornada você encontra MUITO equipamento. Perto de Nioh, Diablo III parece muquirana, com pouco loot.
Nioh 2 permanece com os tempos de combate e inimigos parecidos com o primeiro jogo. Neófitos, recomendo conhecer o primeiro — tudo o que está lá vale para a continuação em termos de jogabilidade. Para quem zerou e gostou do primeiro game, Nioh 2 é um passo adiante. Nessas primeiras horinhas que joguei, parece que as qualidades estão lá sem o grande defeito da repetição de cenários e fases de Nioh 1. Pelo menos, é o que vi. Lembre-se, isto não é uma resenha.