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REVIEW: Rain World (PC, PS4)

Rain World – PC (Steam, GoG, Humble), PlayStation 4

Data de lançamento: 28 de Março de 2017
Desenvolvedora: Videocult
Publisher: Adult Swim Games
Preço: U$19,99

Tomei conhecimento de Rain World lá em 2014 quando o jogo passou por uma campanha de Kickstarter. Confesso que nunca fui mais afundo em saber das peculiaridades do projeto até porque só de saber que era um metroidvania com visual construído em pixel art e ‘’feito na unha’’ por apenas duas pessoas já me cativava. Minha ignorância em relação ao que fazem esse jogo ser extremamente único não me prepararam nem um pouco pro que me aguardava em Rain World.

O jogo tem narrativa bem minimalista e subjetiva. Uma cutscene sem nenhum texto introduz o contexto e te da uma ideia do seu objetivo. Logo você já é inserido no ritmo do jogo, e recebe o o básico aviso de ‘’ache comida e encontre um abrigo’’. Pelo visual de ‘’terra arrasada’’ da pra se captar as nuances que esse é um mundo já abalado por algum tipo de cataclisma.

Como indicado no paragrafo anterior, por trás do conceito básico de Metroidvania o jogo tem também mecânicas de survival. Nosso personagem principal Slugcat, precisa de comida e abrigo pra sobreviver nesse mundo. Ele tem uma barra de energia que é composta por 7 slots. e toda vez que Slugcat hiberna em um abrigo (que funcionam como os checkpoints do jogo) ele consome 4 desses slots, então em todos os dias é necessário buscar alimento pra se manter vivo. Frutas, animais pequenos como morcegos e alguns anelídeos servem de alimento e esses podem ficar escassos, uma vez que assim que você come algum alimento ele não da ‘’respawn’’ no próximo ciclo, te incentivando sempre a explorar o mapa. O abrigo é necessário porque todos os ciclos (ou dias) são finalizados com a ocorrência da brutal chuva que erradica qualquer criatura desprotegida. Então a cada ciclo, que dura algo em torno de 20 minutos, é necessário achar comida suficiente e um abrigo a tempo de se esconder da chuva. Além disso existe algo tipo um ‘’ranking de sobrevivência’’. Pra progredir entre as 12 principais áreas do jogo existem portões especiais e tais portões só abrem se o jogador tiver o simbolo correspondente ao portão. Se progride na escala dos símbolos sobrevivendo a um ciclo enquanto a morte resulta em uma queda na escala dos símbolos (embora existam formas de evitar essa queda no ranking).

O mundo de Rain World é recheado de criaturas, e a grande maioria delas enxergam Slugcat como sua presa, e as opções pra lutar com tais criaturas são bem limitadas. Você pode até usar lanças encontradas no cenários para tentar matar-las, mas lanças e pedras são mais uteis como uma ferramenta de atordoamento para que dê tempo de fugir de situações de perigo. É sempre mais vantajoso tentar passar despercebido ou enganando os inimigos usando os tuneis e buracos do cenário. Esse ecossistema é extremamente vivo e funciona independentemente de Slugcat. As criaturas também se escondem quando a chuva está próxima e lutam em si pela sobrevivência. Então é comum passar por inimigos distintos se enfrentando e até usar o ambiente pra criar um conflito e passar ileso por uma área. Outras criaturas porém não representam riscos diretos de morte e na verdade podem ser utilizadas a sua vantagem pra se locomover no cenário.

Sobreviver nesse ecossistema é extremamente brutal e Rain World é uma das experiencias mais tensas e desafiadoras que tive em muito tempo. O jogo não te pega pela mão em momento nenhum e cabe ao jogador descobrir praticamente tudo de como esse mundo funciona, e muitas vezes isso significa morrer de formas inesperadas e até frustrantes, porém cada morte é um momento de aprendizado. Tentar entender o comportamento das criaturas, quem e o que elas temem, como usa las a sua vantagem, o que é comida e o que não é e até movimentos especiais que Slugcat faz ficam a cargo da sua analise. Diferente de outros jogos do tipo, você não ganha habilidades ou ferramentas que te pareiem com as criaturas e o que te faz mais adaptado a esse mundo é sua habilidade natural e principalmente seu conhecimento. Eu inclusive resetei minhas 5 primeiras horas de progresso depois de entender melhor os sistemas e pra nenhuma surpresa em apenas 45 minutos eu me encontrava exatamente no mesmo lugar que minhas 5 horas inicias tinham me levado, algo meio frustrante mas também que encaixa bem melhor e faz bem mais sentido se for levado em conta o aspecto de survival que o de metroidvania do jogo . Ajudou muito que apesar de o progresso ser resetado, o mapa demonstrando o que você explorou se mantém, logo eu já sabia os melhores caminhos pra seguir. Se sentir por alguns momentos dono desse mundo é extremamente satisfatório no mesmo passo que encontrar ocorrências novas é intimidador e excitante.

Curiosamente esse é um titulo que me lembra muito jogos da série Souls em alguns momentos. Rain World me desafia o tempo todo com o dilema entre risco e recompensa, me fazendo questionar se estou desperdiçando comida por estar entrando em um abrigo muito cedo ou me lamentando profundamente por não ter sido um pouco mais cauteloso e entrado naquele abrigo quando tive a chance. Apesar de nesse ponto ter jogado dezenas de horas, eu não conseguia passar por sessões muito longas sem algumas curtas pausas, por conta do clima intenso e estressante, mas eu também não conseguia me ver longe desse mundo e me lembro de pelo menos meia duzia de vezes que desliguei o videogame com raiva pra imediatamente liga-lo novamente e enfrentar os desafios que vinham acabando comigo. É um processo extenuante porém viciante.

Visualmente o jogo é magnifico. Existe uma variedade bem grande de criaturas e o design delas consegue claramente diferenciar uma das outras mas ainda sim fazer com que todas sigam uma linha visual coerente com o belíssimo mundo arrasado criado em pixel art, e em cima disso todo o jogo tem alguns dos parallax mais lindos que já vi. Rain World tem como um de seus pilares também a forma como as animações dos personagens são reproduzidas. Ao invés de criar sprites com várias poses distintas como é comum em jogos 2D, eles escolheram criar os modelos com membros separados e influenciados pela física natural do jogo. É como se cada movimento de cada membro dos personagens fosse animado pelo código em si e reagisse de acordo com as variáveis da superfície que eles se encontram, ai então movendo o corpo inteiro de forma procedural, criando uma movimentação mais fluida e realista pra cada tipo de corpo de cada criatura. É por isso também que é possível desmembrar os inimigos, causando assim que eles se movam com mais dificuldade, e por conta da debilitação procurem uma nova forma de progredir no cenário. É um trabalho fenomenal de animação e implementação de inteligencia artificial que distingue cada encontro com uma criatura e mantém o jogo fresco e intenso.

Porém essa fluidez visual de animação pode causar algumas instabilidades nos controles de slugcat. Em diversas situações é preciso ter reflexo rápido pra se livrar dos perigos e por conta dessa individualidade dos membros um movimento pode não se realizar ou interagir com a superfície de uma forma que não era esperada, resultando numa morte. Alie isso a uma perda de ranking de sobrevivência e isso se torna um momento extremamente frustrante. Acho inclusive que o sistema de ranking poderia ter sido balanceado pra ter um impacto um pouco menor na progressão visto prever esses momentos de inconsistências de controle e é com certeza um fator que vai pesar muito contra na visão de alguns em relação ao jogo. Ter que refazer seu progresso e ir atrás de comida após ter consumido tudo ao seu redor pode ser sim um processo extremamente irritante ao meu ver, por mais que os ciclos sejam relativamente curtos.

VEREDITO

Rain World é um exemplo de como pra mim projetos independentes podem progredir algumas de nossas convenções básicas de campos como animação, design e construção de mundos, mas como eles podem afastar alguns jogadores com suas peculiaridades também. É um jogo que te instiga o tempo todo a experimentar mas também te lembra o quão arriscado seus erros podem ser te mantendo sempre ligado e focado. Em alguns momentos eu ficava extremamente incomodado com o jogo e por mais que algmas fossem justificadas, muitas vezes eu logo enxergava que eu era culpado e realizava que podia abstrair conhecimento dos meus erros pra conquistar o mundo. Sua subjetividade e brutalidade com certeza vão ser problemas pra muitos e inclusive foram pra mim também em vários momentos, mas no fim das contas eu sinto que experienciar Rain World não tem tanto a ver com progredir nesse mundo pra encontrar um final (o que não aconteceu nas minhas 15 horas de jogo), e sim entender e experienciar na pele como esse mundo funciona.

NOTA: 8/10


O review foi baseado em uma cópia de PlayStation 4 fornecida pela Adult Swim Games