Yooka-Laylee – PC, PlayStation 4, Xbox One (e futuramente Nintendo Switch)
Data de lançamento: 11 de Abril de 2017
Desenvolvedora: Playtonic Games
Publisher: Team 17 Digital Ltd.
Preço: U$39,99
Desde que a Rare foi comprada em 2002 pela Microsoft Studios, fãs da franquia Banjoo-Kazooie clamavam as duas partes por novos jogos dá série que deu tão certo no Nintendo 64. Em 2008 houve uma tentativa de agradar tanto esses fãs como o mercado daquele momento com Banjo-Kazooie Nuts & Bolts, porém o jogo acabou não sendo tão bem recebido por conta das disparidades de algumas de suas mecânicas em relação ao estilo clássico. Dali pra frente a Rare focou em outros projetos, muitos deles envolvendo o periférico de movimentos Kinect, e aquele estilo de jogo foi sendo largado tanto por Rare quanto pela Microsoft Studios. Porém, alguns dos criadores daqueles clássicos e seus fãs ainda não tinham desistido.
Aos poucos funcionários veteranos envolvidos diretamente na produção daqueles títulos, como Steve Mayles e Chris Sutherland foram deixando a developer britânica. Depois de algum tempo ‘’escondidos’’, em 2015 eles anunciaram uma nova empresa chamada Playtonic Games, e depois de um mês de teasers, a campanha de crowdfunding para Yooka-Laylee foi revelada. Depois de tanto sucesso na campanha que levantou mais de U$3.2M, ainda mais funcionários que haviam trabalhado na Rare foram se juntando a Playtonic durante o desenvolvimento.
Como prometido na sua campanha de Kickstarter, Yooka-Laylee é estruturado como um clássico jogo de plataforma 3D do estilo ‘’collectathon’’ do inicio dos anos 2000. O camaleão Yooka e a morcego Laylee moram em ”Shipwreck Creek” e são vizinhos da empresa ”Hivory Towers”, comandada pelo presidente Capital B e seu vice Dr. Quack. Os vilões bolam um plano para sugar todos os livros do mundo tanto pra maximizar seus lucros se tornando os únicos donos de todo conhecimento, quanto pra encontrar o ‘’Grande Livro’’ que coincidentemente (obviamente não é coincidência nenhuma) esta na posse de Laylee. O grande livro contém páginas douradas e que possibilitam a quem o possuir de reescrever o universo. Então quando o livro é sugado pra dentro da Hivory Towers e suas páginas arrancadas, Yooka e Laylee se vêem obrigados a adentrar as instalações da empresa para recuperar as páginas e restabelecer a ordem.
Além do hub da Hivory Towers, as páginas também estão espalhadas por cinco diferentes mundos que são acessados usando livros como portais. As páginas douradas coletadas são usadas tanto pra desbloquear o acesso aos mundos quanto para ampliá-los, adicionando ainda mais conteúdo e segredos a essas fases. O jogo da certa liberdade ao jogador pra escolher não só quais livros desbloquear e expandir mas também como seguir dentro dessas fases, que são estruturadas como mundos abertos onde as únicas restrições de acesso estão atribuídas as habilidades de Yooka e Laylee. Inclusive as habilidades também são exemplos da liberdade dada pelo jogo, uma vez que a cada mundo pode se escolher quais habilidades se quer adquirir da malandra cobra de calças Trowzer.
Aliás, o elenco de personagens é bastante carismático e memorável, traço que veio da antiga Rare e Banjo-Kazooie para Yooka-Laylee também. Dos protagonistas aos NPC’s que habitam a história são personagens antropomorfizados com qualidade de animação de primeira linha, designs interessantes e diálogos divertidos. Todo texto do jogo me agradou muito, trazendo o tempo todo piadinhas picaretas (condizentes com o humor Britânico) sobre as características dos personagens e principalmente sobre a industria dos videogames. Referencias ao crowdfunding, a desenvolvimento de jogos no geral, ao mercado nos tempos de Nintendo 64 e principalmente as praticas das grandes publishers em relação ao mercado de videogames me fizeram rir diversas vezes durante as minhas 26 horas de jogo. E fica até claro que Capital B e o modo que ele toca a Hivory Towers representam de certa forma as publishers e suas medidas avidas por dinheiro fácil nessa indústria.
Duas coisas que incomodaram sim depois de tantas horas de gameplay foram o ”voice-over de onomatopeia” e usar um jogo de perguntas e respostas pra se progredir em momentos da história. São características que a Playtonic também trouxe de Banjo-Kazooie e que dão um charme nostálgico na primeira impressão, mas que com a continua ocorrência fica claro que não tem muito espaço hoje em dia.
O gameplay no geral é muito bom, e os movimentos de Yooka e Laylee tem o toque dos clássicos do gênero mas refinados para padrões atuais. Apenas um ou outro (como usar a mira ”over the shoulder” por exemplo) não funcionam muito bem. Uma das partes mais divertidas do jogo é adquirir novas habilidades e explorar os mapas mais uma vez pra se encontrar segredos e áreas que antes não eram possíveis de se acessar. Os belíssimos mundos construídos pela Playtonic contém vários tipos de atividades pra se obter as páginas douradas e os outros colecionáveis, algumas mais diretas e que envolvem simplesmente alcançar um ponto do mapa através das suas habilidades enquanto outras são mais elaboradas e contam com mecânicas exclusivas para aqueles desafios. Tanto os puzzles como os obstáculos de plataforma funcionam muito bem. O jeito com que esses mundos são encaixados te instigam a tentar achar tudo, mantendo sua liberdade de escolha pra onde ir e de como explorar. Apenas um dos mundos não me impressionou muito, e foi exatamente um em que decidiram mudar um pouco a formula das fases (e foi também o único mundo onde o jogo apresentou alguns problemas de performance mais notáveis). Ajuda também que durante esses momentos uma trilha com composições de David Wise e Grant Kirkhope toca de fundo.
Além da aventura principal (que contém um modo de co-op local pra dois jogadores) o jogo conta também com um modo onde se pode jogar os arcades de Rextro, um Tiranossauro Rex retrô que habita esse mundo de Yooka-Laylee. São oito minigames que podem ser aproveitados sozinho durante a narrativa ou de forma separada em co-op pra 2 ou 4 jogadores.
E apesar de uma gama divertida que mistura a velha e a nova guarda de mecânicas de plataforma 3D, a câmera faz questão de em vários momentos estragar a experiencia. Ela simplesmente decide agir contra o gameplay e ter um comportamento próprio e irritante em algumas ocasiões. É uma herança infeliz que Yooka-Laylee carrega de seus predecessores. O outro ponto negativo ao meu ver no gameplay é o combate. Primeiro que os inimigos não tem nem de perto o tratamento que foi dado aos outros NPC’s e segundo que pra um jogo com tanta liberdade, o combate é super limitado que faz com que enfrentar os inimigos seja repetitivo e monótono.
Esses dois fatores também contribuem pra que os chefões sejam uma das partes mais fracas do jogo. Felizmente por conta de como o jogador é livre pra escolher suas rotas no mundo, muito do combate pode ser evitado e para se terminar a aventura o único chefão que se é obrigado a enfrentar é o final (que também não gera uma luta muito interessante).
VEREDITO
Mais pro bem do que pro mal, Yooka-Laylee é praticamente um novo jogo da série Banjo-Kazooie. A câmera é um problema que parece vir diretamente dos seus antepassados e seu combate é tedioso, mas esses fatores acabam sendo secundários pros puzzles, personagens, diálogos, pra exploração e gameplay de plataforma. Nesses pontos o jogo consegue manter vivo o espirito das aventuras da antiga Rare mas também se adapta pra introduzir o estilo ”collecathon” para uma nova geração. Falta sim um toque de design mais moderno em alguns momentos, mas eu me diverti muito nessas 26 horas (e ainda tenho alguns colecionáveis e segredos pra encontrar) e sinto que no fim das contas os pontos negativos e positivos de Yooka-Laylee representam exatamente o jogo que a Playtonic prometeu.
NOTA: 8.2/10
O review foi baseado numa cópia de PlayStation 4 fornecida pela Team 17 Digital Ltd.
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