Lembro de forma cristalina, como se fosse ontem, quando vi pela primeira vez uma imagem de um Super Nintendo. Estava na porta do meu colégio, esperando a condução para voltar para casa, quando abri uma revista nova de videogame e vi a imagem de Turtles in Time. Queria lembrar qual era a revista, sua edição e a página, mas nunca esqueci aquela Nova York (Big Apple, 3am) iluminada à noite, com as tartarugas enfrentando os inimigos roxos e azuis.
Tinha meus nove para dez anos, há trinta anos atrás. Lembro também de pensar: “eu nunca vou ter isso na vida”. Mas eu tive. Meu pai fazia viagens esporádicas aos Estados Unidos por causa do seu trabalho. Nunca sobrou dinheiro, mas meu pai fazia seus malabarismos financeiros – e até loucuras – para nos ver felizes. Numa dessas viagens, ele prometeu trazer o Super Nintendo. Não acreditei.
Passaram-se alguns dias.
Quando voltou, chorei bastante ao vê-lo retirar o aparelho da mala, todo enrolado em suas roupas. A caixa tinha ficado pelo caminho, ocupava muito espaço. Não me importava. Lembro de abraçar o console e chorar de felicidade. Não conseguia parar. Hoje sou pai, então consigo imaginar a felicidade que ele sentiu. Veio com Super Mario World e, inacreditavelmente, ele tinha achado Turtles in Time.
Daquela revista, inalcançável, para as minhas mãos.
Ligamos rapidamente na TV da sala. Era uma de tubo não plana, simplesinha, de 20 polegadas. O videogame ficava no chão mesmo – não precisava de lugar no móvel e nem preocupação com ventilação. Meu irmão sentou ao lado. Minha mãe, grávida da minha irmã, só gritava que não queria que estragassem a televisão dela – motivo pelo qual o videogame ficou apenas algumas horas na TV da sala antes de ir pro nosso quarto, em uma surrada de 14 polegadas. Lenda urbana pras crianças nunca ocuparem a TV?
Quando a imagem apareceu em tela, meu pai não se surpreendeu ao ver que estava em preto e branco. Lembro de pensar que poderia estar com defeito, mas não tava nem aí. Só queria jogar. Dias e mais dias até acharmos um lugar pra transcodificar o aparelho.
Foram alguns dos melhores momentos da minha vida gamer. Além do Mario e das Tartarugas, joguei muito Aladdin, Mario Kart e Demon’s Crest. Foram só muitos anos depois que joguei alguns dos meus jogos favoritos, como Link to the Past, Final Fantasy 6 e Chrono Trigger. De RPG, daquela época, lembro apenas de me aventurar por The 7th Saga (alugado). Quem dominava mesmo eram os jogos de plataforma. Donkey Kong Country era o meu favorito, enquanto meu irmão preferia o 3. As pistas de Top Gear pareciam de verdade… Até com combustível você precisava se preocupar!
Nessa época, também gostava muito de Fifa e de jogos de luta, como Mortal Kombat e Street Fighter – que jogava sem qualquer restrição dos meus pais. Lia a polêmica nas revistas, mas não ligava para não ter sangue. Os meus melhores amigos na época, Rogério e Vítor, também ganharam um Snes tempos depois dos pais deles, oriundo de uma viagem ao Paraguai. Foi quando tive meu primeiro contato com Art of Fighting. Quando não alugávamos fitas, trocávamos.
O Super Nintendo me acompanhou por muito tempo – e muitos momentos. Quando me mudei, ele me aproximou de meus novos vizinhos. Joguei muito Killer Instinct na fita preta do Milton. Aprendi com ele todas as 96 fases do Mario World (eu sei que são saídas; na época, não eram). Foi quem também me apresentou a Rock n Roll Racing. Foram boas sessões de jogatina no multiplayer local de Power Rangers: The Movie – música que até já pedi em um dos meus primeiros programas aqui do Reloading.
Meu irmão tem cinco anos de diferença de idade pra mim. Se hoje isso não é nada, na época era bastante, então ele tinha os amigos dele, eu os meus. Tiago e Leonardo iam lá em casa para ficarem jogando Donkey Kong Country. E, durante uma briga, lembro de apagar o save dele. Me arrependo. Na época, era uma das coisas mais importantes que a gente tinha.
Esse Super Nintendo durou bons anos e criou muitas memórias, até meu pai passá-lo para uma prima minha, que não tinha videogame, quando ele nos deu o Nintendo 64, em meados de 1997. Era uma prática comum da nossa família e lembro até recentemente dela ter postado algo sobre suas memórias com o console – e como fiquei feliz dela ter tido essa oportunidade.
Fico aqui curioso para saber quais experiências vocês tiveram com o Super Nintendo ou algum outro console que tenha te marcado tanto quanto ele me marcou.
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Esse texto é uma homenagem ao meu pai e à minha mãe, meus irmãos, meus amigos e a todos que também tiveram memórias com esse console, parecidas ou não, mas que são suas e de mais ninguém.