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Top 10 livros sobre videogame

Este texto foi escrito por João Varella, colaborador de games na Folha, fundador da editora Lote 42 e autor do livro ”Videogame, a evolução da arte”, atualmente em pré-venda no site da Banca Tatuí


Em alguns dias, publicarei o livro Videogame, a evolução da arte (Lote 42). Para compor meu texto, dediquei meus últimos quatro anos um razoável tempo à leitura de livros sobre videogame

Aproveitando que meu livro está quase pronto e vendo como encontrar obras de referência não foi simples, passo aqui a minha lista dos 10 melhores livros de games. 

Não são necessariamente as principais fontes de informação. O critério aqui é o prazer de ler mesmo, para qualquer um interessado em saber um pouco mais sobre essa mídia magnífica. 

São livros de não ficção sobre videogame. Então nada de Jogador Nº1, nada de romances que deram origem a games (sim, Witcher, estou olhando para você) nem vice-versa, ficções adaptadas de jogos (tchau livros baseados em Minecraft, Halo, Warcraft…). 

Infelizmente, muitos dos listados estão em inglês. Lamento que grande parte da discussão não aconteça em português — e tá aí o meu modesto livro para ajudar na correção disso. Registro isso por não querer soar pedante com essas indications. O mundos dos livros já tem uma camada suficientemente espessa de arrogância, mas isso é ouuuutra discussão. 

Sem mais delongas, bora lá:

Menção honrosa) Homo Ludens
Johan Huizinga
Este aqui não entra no ranking por não falar de videogame — foi escrito nos anos 1930, muito antes do Tennis for Two. No entanto, é um livro importante, que sedimentou o entendimento que se tem sobre jogo. Há alguns trechos que ficaram defasados com o tempo, mas pelo pioneirismo vale muito a leitura. Gosto dos momentos em que ele entende a poesia como um jogo linguístico. 

10) Reality is Broken
Jane McGonigal
Premissa ousada: o mundo virtual está certo, feedback imediato é uma motivação poderosa para fazermos qualquer coisa. Isso posto, é o mundo real que deve aprender com os videogames. Parece meio polêmico, mas a autora trata de ser bem razoável em seu argumento. Pena que envelheceu muito rápido (mais rápido até que o Homo Ludens).

9) The Ultimate History of Videogames
Steven L. Kent
Um grande repasse pela história dos videogames até os anos 1990. Muito bem escrito e apurado. Faz competente reconstituição da Atari dos anos 1970 – tão bom que graças a esse livro Nolan Bushnell, fundador da empresa, perdeu um prêmio da Game Developers Conference (GDC)

8) Nos Bastidores da Nintendo
Jeff Ryan
O título original deixa bem mais clara a proposta: Super Mario: How Nintendo Conquered America  (Super Mario: Como a Nintendo conquistou a América). O autor teve que lutar contra a notória discrição da Nintendo, mas reconstrói bem a trajetória dos japoneses na América. Talvez o leitor sinta um nível de nintendismo um pouco além do recomendável, mas ainda assim dá para encarar e aprender. 

7) 1983 – O Ano dos Videogames no Brasil
Marcus Garrett
Raro de caso de livro sobre o cenário local. Baseia-se principalmente nos jornais da época para traçar a chegada do Atari 2600 e Odyssey² por aqui, com uma bizarra pirataria legalizada. O Brasil era tão atrasado por seu contexto sociopolítico que o ano da chamada crise dos videogames marcou a difusão dos mesmos por aqui. Virou documentário. Torço que surjam mais livros parecidos. 

6) Death by Videogame
Simon Parkin
Catadão de reportagens feitas pelo autor com a premissa de explicar o porquê de algumas pessoas morrerem de tanto jogar videogame (casos que aconteceram há alguns anos no Oriente). Por mais que soe meio forçada a tentativa de defender o título, a escrita é absurdamente fluída. Foca jogos dos anos 2000 e começo da atual década. Promove algumas discussões sobre GTA V muito sagazes. 

5) Extra Lives
Tom Bissell
O livro mais apaixonado por games desta lista. Ele claramente escolheu os jogos e quem entrevistar baseado na vontade pessoal de conhecer os bastidores dos jogos que ele jogou. Aprofunda bem ao falar de Braid, Gears e GTA IV, na época que este ainda impressionava a galera (quem jogar hoje vai ver um jogo que perdeu o prazo de validade). No final tem até um bônus com uma entrevista deliciosa com Peter Molyneux, criador de Populous. Um mix entre o 6º e o 3º lugar desta humilde lista.

4) A Guerra dos Consoles
Blake J. Harris
Sobre um dos períodos mais apaixonantes da história do videogame, quando a Nintendo teve pela primeira vez que se deparar com um competidor de peso no mundos dos videogames. Na época ninguém imaginava que da metade dos anos 1990 em diante uma tal de Sony tomaria o trono. Pende claramente para o lado da Sega, em especial o de Tom Kalinske. Pelo jeito, o ex-chefe da Sega nos EUA contou tudo o que sabia e mais um pouco. 

3) Sangue, suor e pixels
Jason Schreier
Título alternativo: Entenda porque grana é um problemaço para todo mundo que se atreve a criar jogos. O jornalista que dá os melhores furos da indústria dos videogames (você leu o dossiê que ele fez de Anthem?) escreveu um grande livro. Foca os bastidores do desenvolvimento de jogos. Vai de grandes produções como Diablo III, que teve de ser reinventado após seu lançamento, a indies feitos com muito sacrifício pessoal, como Stardew Valley. Um raro momento de se ver um pouco das engrenagens de uma indústria tão cheia de NDA (sigla em inglês para acordo de não-divulgação). 

2) Hamlet no Holodeck
Janet H. Murray
Organizou os estudos acadêmicos sobre videogame. Usa muito o exemplo do Myst (em parte é por culpa da sra. Murray que dedico um capítulo inteiro de meu livro a esse game) para discutir questões como a estética em games, que necessariamente passam por tópicos como a agência do jogador. Ela consegue dar uma organizada na mistura dos videogames, que é a junção de diversas linguagens. Não é uma leitura fácil (Dark Souls dos livros?), mas vale muito a pena (confirmado, Dark Souls dos livros).

1) Masters of Doom
David Kushner
Quer falar dos Correios? Então conte a história de uma carta. A história da ID Software é uma carta e tanto para falar dos videogames. Uns caras que faziam jogos para uma revista resolvem trabalhar por conta própria, custe o que custar. Chegam a pegar emprestado (sem pedir permissão prévia, claro) os computadores da empresa que pagava os próprios salários. Crescem, apostam num modelo novo de distribuição, fazem da polêmica uma ferramenta de marketing. Tudo isso numa harmonia Yin Yang de John Romero e John Carmack. Claro que já tem gente com mega preguiça de ouvir falar nos fundadores da ID, principalmente de Romero, mas vale muito a pena entender porque esses caras são tão influentes. É uma aula. Deve virar série em breve e estou empolgadíssimo com essa possibilidade.


E aí? Faltou algum livro? Avisa aí que eu quero saber. Continuarei a ler games, a jogar livros (e eventualmente a escrever misturando tudo).