A tarefa não era fácil: conquistar um mercado dominado pela Sony após o maior sucesso comercial de todos os tempos, o Playstation 2. A Microsoft encarou o desafio e lançou o seu Xbox, conquistando uma pequena milionária base de fãs. Nada perto dos mais de 150 milhões de unidades vendidas do PS2, mas o suficiente para encorajar a empresa a lançar um sucessor.
O Xbox 360 saiu em 2005 com um console robusto, fácil de programar, que inaugurou a onda dos jogos em HD, popularizou a jogatina online nos consoles através da Xbox Live, evoluiu o controle, trouxe as conquistas desde os seus primeiros jogos e deu espaço para os indies com a Live Arcade. E tudo isso custando muito menos do que os 599 dólares do Playstation 3, que não tinha muitas dessas funções e teve que correr atrás depois.
Um dos grandes méritos da Microsoft foi contabilizar em cima dos erros da concorrente e conquistar uma gigantesca – e improvável – fatia do mercado, enquanto a Nintendo buscou um outro público com o seu Nintendo Wii. Além disso, ela se aproximou das desenvolvedoras japonesas, lançando vários RPGs e conseguindo até arrancar a exclusividade de Final Fantasy XIII da rival, um dos grandes acontecimentos da indústria dos anos 2000.
Mas nem tudo foi flores: o Xbox 360 apresentou uma série de problemas técnicos, com o mais grave sendo as 3 red lights of death (3RL), que mandou pra cova diversos consoles. O excessivo foco no Kinect, que tentou surfar na onda de sucesso do Wii, também tirou o foco do que vinha fazendo de melhor, bons jogos, deixando o 360 meio órfão de first parties de 2010 para a frente.
Por muitos anos, eu vinha tendo o combo Nintendo + Playstation em casa. O Xbox 360 acabou chamando a minha atenção e peguei um antes do PS3, estimulado principalmente por amigos de fóruns e por ser a casa de vários RPGs japoneses no começo daquela geração – foi também a última vez que tive jogos piratas em um console, algo que, para ser sincero, já me incomodava. Mas você não leu isso aqui, foi um delírio coletivo.
Quando a Microsoft resolveu desembarcar oficialmente no país, me desfiz do meu 360 desbloqueado (que, ao contrário de praticamente o de todos os meus amigos, não tinha dado 3RL!) e peguei um Slim, com um controle extra, Gears 3 e Forza Horizon lá na Fnac do Barra Shopping, RJ. Sempre curti a ideia de comprar consoles e sair com eles debaixo do braço, mas era algo muito, muito, muito raro mesmo de fazer, principalmente pelos preços praticados no Brasil. Querendo ou não, foi uma realização pessoal.
Seguindo nossa tradição, vamos tentar resumir abaixo como foi ter um 360 naquela época através de 20 jogos escolhidos a dedo, uma tarefa sempre ingrata em bibliotecas tão ricas.
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++ Playstation em 20 jogos
++ Super Nintendo em 20 jogos
++ Playstation 2 em 20 jogos
E você, qual foi a sua história pessoal com o Xbox 360? O que ficou faltando?
Alan Wake (2010)
Em um tempo onde os jogos começaram a mesclar características com filmes e séries, Alan Wake surgiu como um dos melhores exemplares do gênero. A Remedy gosta desse tipo de pegada, então sua história é desenvolvida em formato seriado com 6 episódios, contando uma envolvente e imersiva narrativa sobre um escritor homônimo que vai atrás de pistas da mulher desaparecida, mas acaba encontrando um mundo perturbador de uma de suas histórias que ele não lembra de ter escrito. Sua atmosfera, seus gráficos, sua inteligência no uso da luz e sua trilha sonora são dignos de serem lembrados como marcos da geração.
Assassin’s Creed II (2009)
Antes da franquia Assassin’s Creed ser exaustivamente explorada pela Ubisoft, este segundo game deu uma enxugada nos excessos do primeiro título e aprimorou o que já era bom para criar um dos AC mais memoráveis. A ambientação renascentista servia como palco para imensos e detalhados cenários, com uma narrativa que misturava sci-fi com história real, elo entre passado e presente eram traçados, antes da própria Ubisoft desistir de vez de dar um sentido a tudo isso. As animações, tanto dos combates mais detalhados quanto das escaladas livres em parkour (dando início a outra febre), são boas até hoje e a main quest pensada de forma mais intuitiva e com melhores indicadores visuais fizeram da história de Ezio muito mais agradável de se acompanhar.
Batman: Arkham Asylum (2009)
Dá para separar muito bem os jogos de super heróis antes e depois da franquia Arkham. Aproveitando bem o material original, criou um universo fantástico a ser explorado, com gráficos animais, encontros épicos e um combate tão fluido e divertido que é chupinhado até hoje pelos mais diversos jogos de ação. Some isso a passagens em stealth e bom uso das bat-bugigangas do personagem para se ter um gameplay variado e divertido. A história é fantástica, surpreendente em alguns momentos, contada com pegada mais adulta e utiliza bem todos os parceiros e vilões que se propõe a colocar em tela. Há quem prefira o City, sua sequência, mas o impacto desse AA no gênero não deve ser igualado tão cedo.
BioShock (2007)
Uma das diretrizes básicas do horror é colocar um personagem em uma situação extrema, mas em um lugar de onde ele não pode fugir. Rapture cumpre muito bem esse papel com seus neons e água por todo o lado, já que você é um sobrevivente de um acidente aéreo e encontra na cidade submersa uma forma irônica de sobrevivência. Bioshock tem uma das mais espetaculares atmosferas daquela geração, uma sensação de perigo constante que é realçada por inimigos que reagem de formas diferentes aos seus mais diferentes tipos de ataque (físicos ou mágicos) e por humanos ainda sãos que volta e meia cruzam seu caminho e contam um pouco mais da história daquele lugar. Seus elementos de RPG deixam o gameplay ainda mais variado e a presença de personagens icônicos, como os Big Daddies, criam alguns momentos memoráveis nessa jornada insana pela sobrevivência numa utopia que deu errado.
Blue Dragon (2007)
Foi louvável o esforço que a Microsoft fez para tentar emplacar o Xbox 360 no Japão. Ainda que não tenha dado resultado comercial, por aqui os fãs de JRPG se viram com uma boa safra tanto de títulos exclusivos, tais quais Lost Odyssey, MagnaCarta 2 e Tales of Vesperia, quanto de outras empresas, como Nier, Eternal Sonata e Resonance of Fate. Blue Dragon talvez seja o melhor de todos eles, unindo aquele espírito de aventura ingênuo tradicional dos RPGs japoneses mais famosos com a arte do imortal Toriyama. O PS3 teve que correr muito atrás para tentar pelo menos equilibrar as coisas, conseguindo Ni No Kuni e Persona 5, esse apenas no apagar das luzes.
Braid (2008)
De todos os méritos do Xbox 360, o que talvez tenha mudado mais a indústria foi a abertura a pequenas pérolas indies através da Xbox Live Arcade. Sem ela, talvez os consoles nunca teriam conhecido este jogo de conceito simples, mas de latente profundidade que é Braid. Trilha sonora clássica, gráficos aquarelados, uma jogabilidade 2D que usa dos conceitos de plataforma para criar puzzles e uma história verdadeiramente tocante sobre relações humanas. Uma obra muito mais completa do que muito AAA por aí e mais uma prova de que videogames são, definitivamente, uma forma de arte.
Call of Duty 4: Modern Warfare (2007)
COD é lançado anualmente até hoje, mas foi em 2007 que essa febre começou nos consoles – já era um sucesso no PC, mas não na mesma magnitude. Modern Warfare trouxe uma campanha excelente que deixou de lado a Segunda Guerra para focar em conflitos mais atuais, além do multiplayer de qualidade que se tornou marca registrada da série, popularizado também pela falta de concorrência na época. Foi criticado por ser linear demais e de pouca duração na campanha, mas são preços pequenos a pagar perto de uma experiência intensa e cinematográfica. Ágil e viciante, caótico e barulhento, online ou offline, simplesmente obrigatório.
Dark Souls (2011)
You Died. Engraçado notar o fenômeno Dark Souls, talvez o jogo mais influente da época, em uma geração cada vez mais banhada a facilidades e imediatismo – tanto que ninguém queria lançar o primeiro, Demon’s Souls, que acabou exclusivo do PS3 como aposta da Sony. Dark Souls pede dedicação e, acima de tudo, paciência. O faz aprender com os erros. A quem persistir, o jogo entrega uma aventura única, lotada de chefes épicos, com uma narrativa rica contada de maneira original, não diretamente, mas através de descrições de itens ou pequenas mensagens gravadas pelos cenários. É para mergulhar no pesadelo – e sair satisfeito com isso.
Dead Space (2008)
Quando os survivor horrors já pareciam estagnados, tendo sido relegados ao ostracismo por Capcom e Konami, criadoras das maiores franquias do gênero, coube à Visceral Games resgatar a relevância desse tipo de game. Ficção científica que mescla o terror e gore de Resident Evil com a claustrofobia espacial de Alien, Dead Space mostra a sangrenta jornada de sobrevivência do engenheiro Isaac Clarke em meio a naves e estações, verdadeiras cidades interestelares, infestadas por criaturas alienígenas e experimentos mal sucedidos. Se hoje os survivor horror games retomaram uma posição digna no mercado, esse mérito deve-se, em grande parte, a Dead Space. Para se jogar de noite e com fones de ouvido.
Participação especial de Sérgio Santos, amigo de anos.
The Elder Scrolls V: Skyrim (2011)
Fenômeno dos anos 2010, Skyrim trouxe muita gente para próximo do WRPG, ou o RPG ocidental, comum nos PCs, mas com pouca atenção nos consoles. Não foi o caso aqui. Skyrim foi um verdadeiro arrasa quarteirões, uma aventura infestada com o que há de mais clássico em RPGs de mesa, tais quais aventura, exploração, cidades, masmorras, gerenciamento de equipamento, monstros e, claro, dragões. Seus gráficos eram potencializados com construções épicas, entre castelos e ruínas, e a narrativa era tão vasta que sua aventura ia muito além da questline principal, rendendo horas e horas das mais diferentes jornadas. Seu tema principal é um dos mais conhecidos da geração.
Fallou 3 (2008)
Se Skyrim popularizou, Fallout 3 foi o responsável por mostrar que os novos consoles daquela época eram capazes de receber grandes WRPGs. O upgrade de F3 foi imenso: o jogo passou a ser 3D ao invés do tradicional isométrico 2D, os combates agora são em tempo real e a visão em primeira pessoa casou muito bem com sua proposta geral para exploração e mecânicas. Não à toa que foi um enorme sucesso, vendendo mais de 600.000 unidades (somando com o PS3) apenas em seu primeiro mês comercial e deu sequência a um jogo tão bom quanto, para alguns até melhor, chamado Fallout New Vegas, além de diversos DLCs que expandiram ainda mais sua rica lore.
Far Cry 3 (2012)
É fácil entender seu sucesso: FPS estavam em alta naquela geração e FC3 soube surfar nessa onda com um jogo diferente do que tinha no mercado. Ambicioso, com um escopo muito maior do que o título anterior, uma ilha grande a ser explorada, habitada não apenas por piratas, mas também por animais diversos, combates francos ou estratégicos, além de uma série de elementos de RPG que deixavam o jogo divertido de customizar, tais como tipos de armas e árvores de talentos. Sempre defendo que grandes obras precisam de vilões marcantes e esse talvez seja o maior mérito desse jogo: Vaas Montenegro era um vilão sanguinário e lunático, mas com uma presença única e peça chave para cativar o público.
Forza Horizon (2012)
A franquia Forza sempre foi sinônimo de Xbox e, para ser sincero, a sub-franquia Horizon fez mais sucesso no Xbox One do que no 360 em si. Mas para quem assim como eu jogou desde a primeira versão, sabe que temos ali um dos melhores jogos de corrida já feitos. Diferente da pegada de Motorsport, Horizon é mais arcade, com um mundão aberto cheio de coisas pra fazer e com muitos segredos e coletáveis a serem descobertos, corridas agitadas e divertidas e uma infinidade de cenários belíssimos que dá para usar e abusar do modo foto incluso no game. Acabou se tornando meu jogo de corrida favorito de todos os tempos.
Gears of War 3 (2011)
A franquia Gears nasceu e se popularizou muito rapidamente no 360, com combates frenéticos, explosões, protagonistas de queixos quadrados e cenários meio cinzentos. A jogabilidade, para alguns repetitiva, se baseia no esquema de se esconder e atirar nos inimigos enquanto avança pelos cenários e cutscenes volta e meia contam a história. Só que por trás dessa imagem regada à “filmes de macho” dos anos 80 encontramos personagens profundos, com histórias trágicas e com um porquê lutar. A terceira versão foi a minha favorita, com uma história mais encorpada e um multiplayer viciante, tanto competitivo quanto cooperativo (principalmente o modo Horda), que estenderam muito a duração do game.
Grand Theft Auto V (2013)
Em 2013 ainda não sabíamos, mas GTA V se tornaria não apenas o mais popular da série, mas um dos games mais vendidos de todos os tempos; tanto que já está confirmado em sua terceira geração de consoles. Além de um multiplayer viciante e disseminado, seu modo história que alterna entre três protagonistas diferentes foi inovador e com diversas maneiras de se explorar aquela recriação digital de Los Angeles. Seja fazendo as missões ou apenas aprontando por aquele vasto mundo, seja na área rica ou na mais pobre da cidade, GTA V estará sempre lá, disposto a sugar sua atenção novamente mesmo no meio de tantos jogos sendo lançados a todo instante.
Halo 3 (2007)
As expectativas em cima de Halo 3 eram enormes, então não foi uma surpresa o fenômeno quando ele foi lançado. Halo elevou o nível gráfico, técnico e de jogabilidade dos FPS em console, virando sinônimo de Xbox. A campanha trazia real diferença entre o nível normal e os mais difíceis: os inimigos agiam de formas diferentes, usavam itens diferentes e realmente dificultavam sua vida, não apenas tinham um handcap maior de life e dano, que é como a maioria dos jogos fazem. Se a história escorregava um pouco em alguns capítulos, o mesmo não pode ser dito do multiplayer, que é onde Halo 3 realmente brilhava. A campanha podia ser jogada em coop de até 4 pessoas e o deathmatch era viciante e muito mais encorpado do que o jogo anterior, aproveitando a robusta estrutura da Xbox Live. Muitas armas, inclusão de motos e lança-chamas, um modo replay genial que permitia editar suas jogadas sem pesar no processamento do console e mapas, muitos mapas para jogar e rejogar com amigos e inimigos por muitos dias. Pode não ser o melhor Halo do console – parece unanimidade entre a comunidade ser o Reach -, mas Halo 3 tinha uma enorme responsabilidade e tirou isso de letra.
Mass Effect 2 (2010)
Sequência de um grande sucesso da Bioware exclusivo do Xbox 360 por muito tempo, Mass Effect 2 fez tudo aquilo que uma boa continuação deve fazer: aprimorar o que funcionou no original e corrigir os defeitos para entregar uma obra muito mais polida e com conteúdo redondo. As sidequests genéricas ficaram de lado, a exploração foi melhorada e as decisões tomadas ao longo da jornada seguem influenciando na experiência que você vai ter em termos de narrativa – inclusive, é possível importar o seu save do primeiro jogo para que isso afete a história desse segundo. Junte tudo a uma ambientação fantástica, a personagens atraentes e a uma atmosfera cinematográfica única e entenderá o porquê de tanto alarde ao redor de ME2.
Portal 2 (2011)
Versão bombada de uma pequena pérola que surgiu pela Valve, este engenhoso puzzle consegue, ao mesmo tempo em que faz o jogador pensar fora da caixa, contar uma história muito bacana e divertida. A base do gameplay é controlar dois portais que são interligados, seja para você passar, movimentar itens, controlar botões, pegar impulso ou até mesmo desviar lasers. É um jogo muito variado, que faz raciocinar e dá aquela sensação de que você é realmente inteligente quando acha a solução de algum complexo enigma. Para melhorar tudo, há um modo cooperativo obrigatório e um dos robôs mais icônicos do mundo dos games, GLaDOS.
Red Dead Redemption (2010)
A RockStar já gozava de prestígio quando resolveu retomar um tema que havia rascunhado anteriormente com Red Dead Revolver, para PS2. Aproveitou de sua experiência com GTA, aprimorou a fórmula e entregou um dos melhores games da geração. Saem os veículos, entram os cavalos. Saem as metralhadoras e entram as pistolas de poucas balas. Saem os grandes prédios de concreto e entram construções em madeira do final do século retrasado. O que não mudou nada foi a estrutura de um mundo aberto completamente vivo, com saloons, trens, longas cavalgadas, eventos aleatórios e uma história densa e emocionante. John Marston já é um dos ícones recentes da cultura pop.
Tomb Raider (2013)
Lara surgiu como um símbolo sexual dos games em meados dos anos 90, mas esta releitura que saiu no final da geração é muito diferente daquilo que estávamos acostumados e que a fez famosa no passado. Inspirada totalmente em Uncharted – que, por sua vez, havia se inspirado em Tomb Raider e todos haviam se inspirado em Indiana Jones -, é uma aventura que mantém os seus puzzles, mas foca mais na ação, trazendo uma Lara mais jovem, menos experiente e totalmente vulnerável aos perigos que ela irá enfrentar. Ela sofre, se machuca, sangra… Incontáveis vezes. Mas segue sempre em frente enquanto avança na história e pega coletáveis escondidos pelos cenários.