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REVIEW: Spider-Man Miles Morales

Data de lançamento: 12 de Setembro 2020
Desenvolvedora: Insomniac Games
Publisher: Sony Interactive Entertainment
Plataformas: PS5, PS4
Preço: U$49,99


Miles Morales é uma das melhores surpresas de 2020. Nem sabíamos que esse jogo existia seis meses atrás, e agora, depois de jogá-lo por cerca de 20 horas, ele provavelmente estará entre meus jogos favoritos do ano.

Logo no início fiquei impressionado com o nível distinto de personalidade que o jogo apresenta. Começamos com Miles andando no famoso metrô de Nova York, ele está ouvindo música no fone de ouvido (nada da trilha orquestrada, mas um hip-hop licenciado), é véspera de natal, então é inverno nos Estados Unidos, por isso ele ta vestindo uma jaqueta e com uma bota Timberland no pé, um combo de roupas comum para nova-iorquinos. Ele está caminhando pelas ruas do Spanish Harlem, um bairro tradicional de Manhattan, conferindo arte de rua sendo feita enquanto se dirige para outro estábulo histórico de alguns bairros de Nova York, uma Bodega.

Os primeiros dez minutos deste jogo retratam as peculiaridades de Nova York de uma forma mais intensa do que todo o primeiro jogo. Esta é uma declaração clara de que esta cidade não é composta apenas por edifícios altos adequados para Miles se balançar e projetar com suas teais, esse não é só um cenário de fundo, é um lugar relacionável, uma cidade de relevância cultural feita assim por seu povo.

E logo em seguida, outra afirmação, a de que esta é de fato uma grande aventura neste universo, embora sim, seja mais curta em conteúdo e abrangência em alguns aspectos, os valores de produção são os mesmos, se não mais impressionantes ainda, que do jogo original. Somos brindados com uma abertura bombástica com set-pieces e uma luta de chefe ainda mais impressionante do que as do primeiro jogo. Essa personalidade e estilo bombástico transparecem até mesmo na maneira como Miles se movimenta pela cidade, com movimentos mais chamativos e um uso de músicas licenciadas em momentos específicos.

Eu joguei em um PS4, e ainda é um jogo lindíssimo e as mudanças visuais feitas em Nova-Iorque por conta de ser inverno em véspera de natal dão uma sensação de uma cidade mais acolhedora.

O combate também retrata tudo isso. É claro que é muito semelhante em termos de mecânica e tem praticamente a mesma base do jogo original, mas o fluxo tem sido bem diferente para mim. No jogo de 2018, Peter tem muito mais opções de gadgets para usar, e eu baseei meu estilo de combate muito neles, pois são muito divertidos e eficazes de usar. Miles tem apenas quatro, e eu acho que eles são bastante medíocres, então o combate é basicamente combos corpo a corpo e habilidades especiais ligadas aos finalizadores, o ataque de choque e a skill de invisibilidade de Miles. No quesito combate corpo a corpo, a experiência em Miles Morales é melhor com combos mais divertidos e visualmente melhor trabalhados.

Em termos de ritmo narrativo, o tom é bem diferente. No primeiro jogo, a Insomniac propositalmente pula os primeiros anos do Homem-Aranha, entregando um Peter Parker que já age como herói há 8 anos, então é por isso que ele já entende seu papel e está lutando contra uma lista tão grande e intensa de vilões como o Sinister Six. Aqui, Miles é o Homem-Aranha há apenas um ano, ele ainda está aprendendo como se portar, e por conta disso, os tropos e características clássicas do personagem de ser o ” amigo da vizinhança” são muito mais acentuados. Ganke, o melhor amigo de Miles, desenvolve um aplicativo onde pessoas comuns podem relatar todos os tipos de situação, para que “o novo Homem-Aranha” possa ajudá-los com os perigos de Nova York. Adorei esse aspecto do jogo porque ele ajuda a criar esse laço direto entre Miles e a população, e tanto as missões secundárias mais elaboradas quanto as atividades simples de combate ao crime podem ser feitas usando o aplicativo, e as situações dão a este jogo uma sensação de imersão maior, já que esses NPCs envolvidos nas missões são melhores definidos também.

Enquanto falamos sobre missões, aqui está uma ótima coisa que a Insomniac fez: cortar muitas das partes que não eram divertidas no jogo original. De lado ficam os puzzles de ciência e hacking, todos os quebra-cabeças que temos aqui envolvem as habilidades de Miles para resolver imbróglios no cenário. Cortadas também foram as missões de história que envolviam sequências de stealth com pontos instantâneos de falha, uma das partes mais mal executadas dos jogos de 2018. Furtividade aqui é uma habilidade intrínseca de Miles que é frequentemente usada em combate, e em alguns desafios furtivos que Peter configurou para ele (que apresentam falha instantânea e, embora não sejam muito divertidos, também são completamente opcionais)

Esses desafios e conteúdos relacionados a colecionáveis ​​são muito semelhantes às atividades mais simplistas que o outro jogo tinha. Eles não são muito elaborados e praticamente se baseiam em usar os pontos fortes da travessia presente no jogo pra justificarem sua existência, embora aqui eu tenha sentido um pouco mais de esforço em tentar dar como pano de fundo, história mais interessante para estes colecionáveis.

De volta à história, Miles será por algumas semanas o único Homem-Aranha em Nova-York, já que Peter vai tirar férias ao lado de Mary Jane. Tudo isso acontece quando a Roxxon, uma grande empresa do ramo de energia que está expandindo sua presença no Harlem Leste, e o Underground, um grupo de criminosos rebeldes que possuem armas de alta tecnologia, estão em pé de guerra. Morales tem que sobreviver a essa luta, ao mesmo tempo que tenta defender o interesse dos seus laços pessoais ligados ao conflito. É uma aventura tremenda e as missões principais são repletas de grandes batidas narrativas e ação explosiva. Eles reutilizaram um vilão original de uma maneira interessante, criando combates elaborados com ele, também apresentando três novos algozes. Dois deles são ótimos porque são bem desenvolvidos e mostram sua personalidade em toda a campanha. O outro, é um vilão tradicional que é bastante cansativo e muito cartunesco, mesmo para um jogo de super-herói.

Todo o arco é o grande teste de Miles, compreendendo sua responsabilidade e buscando entender o que seu papel significa para as pessoas. Ele chega inclusive a ter um caso de ”síndrome de impostor” até se sentir totalmente confortável em ser o seu próprio Homem-Aranha, passando por momentos de indecisão em relação a seu futuro, recebendo mentoria de diferentes perspectivas e fazendo sacrifícios pessoais pelo bem maior. Sim, é um tipo de história muito tradicional para o Homem-Aranha, mas funciona, e a personalidade de Miles dá a ela todo o seu sabor distinto. Eu acho que alguns conflitos são apresentados e resolvidos um pouco apressados, especialmente ponderando a dimensão e as consequências que eles resultam, porém o final em si foi um grande momento.

As interações de Miles com seus amigos e inimigos são ótimas e ajudam a dar a este jogo a personalidade mencionada que ele tem, então eu gostaria que eles fossem ainda mais explorados. Esse elenco de personagens merecia alguns cenários a mais para que recebessem ainda mais tempo de tela, já que são eles fazem dessa aventura uma digna de ser celebrada. Adicionado a isso, poderiam ter buscado também nos dar algumas missões de contexto mais mundano, com por exemplo Miles explorando o Harlem, saindo com os amigos enquanto inevitavelmente tendo que usar suas habilidades para resolver algum problema Um pouco mais sobre equilibrar as provações e tribulações de ambos ser um adolescente e também o herói de que a cidade precisa funcionaria muito bem aqui.

Eu acho que essa é a única critica em relação a Spider-Man: Miles Morales que não vem do jogo original. Eu não acho que este seja um jogo curto, como eu disse, eu joguei cerca de 20 horas dele completando a campanha e as principais missões secundárias, e ainda há a maioria das atividades e desafios mais simples para completar, mas eles poderiam ter focado mais no caminho principal da história, para assim definir os conflitos de maneira mais detalhada, ao mesmo tempo fazendo com que as resoluções pareçam mais merecidas.

Ah, e eu adoraria que a Insomniac colocasse um seletor de música no jogo. Eles tocam música licenciada às vezes, e Miles é constantemente exibido ouvindo música em seus fones de ouvido. Construir uma pequena interface de player de música para o celular in-game onde podemos escolher o que está tocando no fundo teria sido outro bom toque para tornar o personagem e o jogo ainda mais únicos em comparação com o antigo.

VEREDITO

Era esperado que um jogo desenvolvido em pouco mais de 2 anos teria muitos aspectos compartilhados com o primeiro, e é inegável que Miles Morales só foi lançado tão rapidamente por conta disso.

Mas não se deve subestimar o trabalho criativo que a Insomniac fez em cima desse título, focando em distinguir esses personagens baseado nas suas vivências, e fazendo com que isso fique claro tanto na história quanto em aspectos de gameplay. Esse é um jogo com muito estilo, coração e personalidade, um que deixa claro que Miles é tão Homem-Aranha e protagonista desse universo quanto Peter.

https://www.youtube.com/watch?v=NTunTURbyUU