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Três jogos, três reviews. (SEASON, Hi-Fi Rush, Metroid Prime Remastered)

2023 vinha prometendo ser um ano de virada em termos de lançamento, com vários jogos de grande calibre anunciados em anos recentes, projetando um lançamento nesse ano. Passados dois meses, e tivemos não só alguns lançamentos esperados, como também algumas surpresas que cimentam o potencial de 2023 como um dos anos mais recheados em lançamentos empolgantes dos últimos anos.

Pensando como esse ano vai ser movimentado (e o tempo ta curto) resolvi condensar três análises em um texto só, falando das minhas experiências jogando alguns dos lançamentos desse ano até aqui. Acho que pode ser uma forma legal de trazer de volta a antiga seção ‘’o que estamos jogando’’ do podcast, pelo menos uma vez por mês pra vocês aqui. Bora lá então!


SEASON: A letter to the future

SEASON é um jogo não violento, onde o objetivo é explorar e registrar um mundo que aparentemente está acabando em breve (ou pelo menos mudando de forma significativa), então nós, como o personagem jogável, somos imbuidos da tarefa de viajar para diferentes locais para coletar fotos, gravações de som, e o testemunho das pessoas para deixar estes registros para as gerações futuras como documentação histórica desta era atual.

Nosso personagem principal vive em uma vila, em um mundo que à primeira vista é bem parecido com o nosso. Seus prédios se assemelham aos nossos, eles se vestem como nós e têm equipamentos e estruturas iguais aos nossos, mas há uma natureza mística em suas interações e uma forte presença espiritual em tudo o que fazem. Eles fazem rituais para proteger suas mentes do que chamam de ‘’doenças da mente’’, e ouvimos um história onde uma  grande guerra foi resolvida com uma oração poderosa. São coisas assim que criam essa vibração mágica para um mundo que, fora isso, é semelhante ao nosso.

Temos permissão para deixar nossa vila para explorar o mundo e tentar entender o que vai acontecer. Esta é uma cidade isolada e ninguém teve permissão para sair desde antes de nascermos. Obtemos permissão especial com a condição de levarmos nossas anotações e memorabilia para um lugar especial protegido, uma espécie de museu, para que as gerações futuras possam aprender sobre o mundo que está prestes a mudar para sempre de acordo com a visão. Este lugar presumivelmente sobreviverá a esta mudança de era.

Andamos de bicicleta como método de travessia, o que é ótimo já que os diferentes capítulos são mundos abertos onde somos livres para explorar, interagir e registar tudo o que nos chama a atenção. Usamos uma câmera tipo polaroid para tirar fotos e um gravador de voz para capturar sons da natureza ou outras coisas, como músicas.

Ao registrarmos essas coisas, usamos nosso trabalho para completar as páginas de um caderno, escolhendo fotos, citações, desenhos e, às vezes, memorabilia que encontramos para ilustrar os lugares por onde passamos. A maioria das páginas pode ser livremente personalizada ao nosso gosto, pois somos nós que escolhemos o que imortalizar para as gerações futuras para representar o que foi viver nesta época atual. Explorar e interagir com este mundo é bem prazeroso devido à beleza dessas vastas áreas. Você é constantemente compelido a tirar fotos e apreciar a vista.

Há um aspecto leve de resolução de quebra-cabeças em algumas páginas específicas. Nelas precisamos descobrir onde explorar e quais imagens e sons registrar para completar alguns requerimentos mais especificos do caderno. Nada muito complexo, mas está presente para lhe dar um senso geral de desafio e orientação na tarefa que você está realizando.

Mas antes mesmo de iniciarmos a jornada, o primeiro aspecto que me chamou a atenção, praticamente desde o início, foi a qualidade da escrita do jogo. Diálogos, textos sobre colecionáveis, histórias que nos são contadas e os monólogos proferidos pela nossa personagem titular, todos eles são escritos com uma estrutura poética e tentam transmitir pensamentos reflexivos sobre nossa natureza como humanos. Em algumas áreas interagimos com as pessoas por meio de seus escritos, em outras, as encontramos nos lugares onde moram para entrevistá-las e aprender sobre suas tradições e ouvir histórias antigas que elas compartilham. Eu adorava essas interações e estava ansioso para aprender coisas novas com esses personagens toda vez que encontrava um deles. Embora eu deva dizer, nem todas as performances dos atores atendem ao padrão de escrita presente no jogo.

Depois de uma longa sessão explorando uma área enorme no jogo, eu estava me divertindo tremendamente com ele, já antecipando que seria capaz de explorar novos lugares, obtendo mais momentos como esses com diferentes culturas e biomas. Mas quando pensei que estava com 2/3 do jogo completo, ele simplesmente acabou, com uma conclusão que me pareceu um pouco anticlimática. Não é que seja um jogo curto, joguei um pouco mais de sete horas para chegar ali, mas a introdução deu a impressão de que eu estava viajando pelo mundo para interagir e registrar a vida de pessoas que viveram vidas muito diferentes, mas você acaba apenas indo para poucos lugares.

Então é aí que me encontro com SEASON. Eu realmente gostei do tempo que passei com ele e de tudo o que vivi no jogo, mas ao mesmo tempo, sinto que precisava de mais daquele conteúdo incrível, para nos dar um final mais gratificante e, com isso, ele teria o potencial de se tornar um dos jogos mais interessantes que já joguei. Talvez eu esteja sendo muito absurdo pedindo mais e sugerindo o que os desenvolvedores deveriam ter feito com seu próprio jogo, mas não posso deixar de me sentir assim sobre este, e só me sinto assim por causa do quanto gostei do que estava lá.


Hi-Fi Rush

Um dos lançamentos supresa do ano, não só por ter sido anunciado e lançado do nada, mas também por ser algo tão diferente vindo do estúdio responsável por The Evil Within e Ghostwire Tokyo (um jogo que acho levemente subestimado).

Hi-Fi Rush é um jogo que mistura elementos rítmicos nos moldes de jogos de ação hack’n slash como Devil May Cry ou Bayonetta. O mundo inteiro é regido pelo tempo e batida da música, e encaixar seus ataques e outros movimentos como esquiva te dão bônus de dano e outros beneficios de gameplay dentro do jogo.

É tão revigorante ver um jogo que em termos de combate visa algo como jogos já mencionados, mas é completamente diferente em tom, visual e apresentação geral. Hi-Fi Rush é constrúido com um gráfico cartunizado, colorido e vibrante, e um jogo leve e divertido onde o ritmo dialogo é ditado mais por piadas do que qualquer outra coisa.

O jogo se passa em um futuro onde robôs e melhorias roboticas em humanos são algo comum, e nosso personagem principal, Chai, passar por um processo mal sucedido de implantação de um braço robótico onde seu Ipod é também incorporado ao seu corpo, e assim eles ciram essa conexão com a música. Ele então passa a combater a corporação responsável por esse procedimento, já que eles tem planos ainda mais nefastos para suas invenções tecnológicas.

A história é simples, os personagens bem cartunescos, mas acredito que tudo funciona bem por conta da intenção do jogo. O tempo todo ele é transparente em tentar entregar algo que lembre uma mistura entre um desenho ocidental e um anime, tanto no visual quanto na história e dialogos. Existe um capricho muito grande em toda animação, cutscene e interação entre os personagens para dar um senso unico de estilo, algo que em alguns momentos me lembra muito o trabalho feito em Persona 5, talvez o jogo que melhor realizou a união de todos os aspectos visuais com gameplay e hitória nos últimos tempo. O fato de que Hi-Fi Rush também atinja tais níveis em certos momentos, é um grande ponto positivo a favor do jogo.

E assim como outros grandes jogos de ação, Hi-Fi Rush é acessiveis e relativamente simples de se controlar, tenho certeza que muitos passaram pelo jogo fazendo combos simples e fazendo aquele famoso button mashing em momentos mais desesperados, porém, o jogo possui uma camada complexa e profunda de combos que deixam seu gameplay dinamico, visualmente impressionante e cheio de adrenalina.


E eu só tive essa experiência depois de usar a opção de treinamento presente dentro do hub do jogo. Foi a partir dali que comecei a entender melhor cada um dos ataques que fui adquirindo, e em quais situações usa-los, e também como melhor aproveitar segmentos de combos diferentes. Quando comecei a pensar melhor nesses aspectos e me desafiei a implementa-los nas batalhas, a diversão aumentou demais dentro das fases.

Fases essas que são relativamente simples, divididas principalmente em segmentos de plataforma e arenas de combate. Sendo sincero, os segmentos de plataforma não me agradaram, o gameplay que é fechadinho no quesito do combate, deixa um pouco a desejar aqui, nunca passando a mesma ideia de controle e precisão quando precisamos pular pelo cenário. Fica ainda pior quando para dar uma variada no ritmo das fases, eles introduzem segmentos de progressão exclusivamente lateral que parecem ainda mais fora de sintonia com o resto do jogo. Felizmente algumas outras variações postas nas fases funcionam melhor.

Mas os destaques ficam realmente pros chefes das fases. Tirando um que acaba ficando monotono demais, essas batalhas são conhecidas por adicionarem elementos novos de gameplay, e terem setups únicos e explosivos onde toda aquela mistura que mencionei entre apresentação e gameplay entrem em uma sintonia perfeita. 

No fim das contas, mesmo com uma estrutura simples, história básica e essas falhas dos segmentos de plataforma, o jogo ainda sim é um dos produtos mais frescos dos últimos tempos, aliando estilo distinto, gameplay divertido e um elenco de personagens de grande carisma. 


METROID PRIME REMASTERED

Um projeto que ficou anos no campo do rumor (e aparentemente um tempinho bom pronto e só com a Nintendo esperando o momento ideal para seu lançamento) e que quando lançado, acredito que agradou ainda mais do que se esperava. Muito porque apesar do nome, esse projeto me parece mais um remake de certa forma que um remaster. Foram criados assets completamente novos, que inclusive dão a esse jogo o titulo de um dos, se não o mais bonito jogo lançado no Nintendo Switch. Um projeto que moderniza os visuais, adapta um pouco os controles, mas mantém o level design e todos os segmentos de gameplay intactos como eram no lançamento original em 2001

E isso me revelou algo muito precioso sobre Metroid Prime, o fato de que mesmo tanto tempo depois ele continua um jogo excelente com poucos rivais modernos em termos de experiências similares. Sou notoriamente conhecido pelo meu apreço pelo que chamo de ‘’Metroidvanias 3D’’ e esse aqui foi um dos primeiros exemplos, e é até hoje um dos melhores. Eu vejo tanto de Metroid Prime em jogos como Prey (2017), Batman Arkham Asylum, Control, Bioshock, e eu amo tanto esses jogos e hoje percebo que não é atoa. Rejogar esse jogo originalmente lançado em 2002 foi a prova que bom design sobrevive ao tempo. 

Esse projeto me deixou extremamente ansioso pelo eventual Metroid Prime 4 que esta sendo feito pela própria Retro Studios. 


BONUS

Essas não foram as únicas coisas que joguei nos últimos tempos, mas as principais. Queria dar um destaque aqui também para Tinykin, que é um jogo que mistura elementos de plataforma, com estratégia para resolver puzzles no cenário. Aparentemente é inspirado por Pikmin (uma série que nunca joguei) e se o quarto jogo da franquia da Nintendo que sai em Julho trouxer algo parecido, tenho certeza que vou gostar muito também. 

Também fui influenciado pela adaptação da HBO de The Last of Us para voltar para esse universo, mas não para jogar o jogo original e sim Part II. O episódio que mostra Jackson me resgatou pra esse jogo e rejoguei (pela…quarta vez?) uma boa parte dele. Eu continuo amando o gameplay desse jogo e mal posso esperar pra ver o que a Naughty Dog vai fazer com esse conjunto de mecânicas e esse universo em um projeto multiplayer. 

E o que vem na próxima vez que eu escrever um texto desses? Provavelmente Atomic Heart, Wo-Long e Resident Evil 4. Março vai ter muita coisa legal em todas as plataformas.